A informação que circulou, em início de março, de que um cão havia sido testado positivo para o novo coronavírus, em Hong Kong, preocupou donos de pets e, antes da comprovação oficial, muitos passaram a abandonar os animais de estimação por acreditar que também possam transmitir a Covid-19. Prefeituras e ONGs de Porto Alegre e da região Metropolitana relataram que, nas últimas semanas, o número de casos de abandono cresceu.
O comitê científico e de saúde única da Associação Mundial de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais e a Organização Mundial da Saúde deixa claro que não há evidências de que animais de estimação (cães e gatos) possam se contaminar. Por essa razão, conforme as autoridades, não há por que abandonar.
Em Canoas, por exemplo, o secretário de Bem-Estar Animal, Alex Szekir, notou que os casos de abandono cresceram, embora não exista um índice exato. Szekir lembra que isso já vinha ocorrendo, por outras razões, e que o surgimento do coronavírus só ajudou a aumentar o volume.
“Seja uma gravidez na família, uma doença, ou uma mudança. Mas com a chegada do vírus ao Rio Grande do Sul, ficamos ainda mais apreensivos. Na segunda-feira, por exemplo, recebemos uma ligação de um casal de idosos que queria entregar o cachorro pois estava com medo de contrair o vírus, ir para o hospital e não ter com quem deixar o animalzinho”.
Szekir disse que, além do abandono de animais domésticos, os cães comunitários também passaram a ser uma preocupação. Diariamente esses animais recebiam alimentação e água oferecidos pela comunidade e pelos comerciantes de Canoas. Porém, com o comércio fechado e a queda na movimentação de pessoas, Szekir adverte que que esses cães ficaram sem a assistência cotidiana. “É importante que as pessoas que os alimentavam diariamente não esqueçam que eles seguem circulando pelas ruas, só que agora sem ração. Os dias seguem quentes e nem água eles estão recebem mais”.
Em Porto Alegre, com o temor de que a população abandone os pets por conta do novo coronavírus, a Prefeitura decidiu criar um aplicativo para que, por meio da inscrição de voluntários, pessoas possam compartilhar experiências e auxiliar os idosos e grupos de risco em passeios com os animais e compras de ração.
A Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade de Porto Alegre notou que, durante a quarentena, o número de doações reduziu quase pela metade. Com isso, rações, medicamentos e materiais de higiene podem acabar faltando, já que a ajuda ocorria de forma voluntária ou durante o Brique do Parque da Redenção. O site do AjudaCoronavírusPETS pode ser acessado aqui.
Para Zélia Cardoso, gestora da Clínica Vida e Saúde Animal e presidente do Projeto Castração de Animais Domésticos, ainda é cedo para falar em números de abandono, mas conforme ela, a situação é preocupante já que o Brasil ainda não chegou ao pico de transmissões.
“As pessoas pecam pela falta de informação e tudo de ruim é atribuído aos animais. Além disso, com as restrições, que certamente podem aumentar conforme mais pessoas forem infectadas, podem fazer com que elas, na impossibilidade de sustentá-los, acabem por abandoná-los”, considera.
Companhia
Em um movimento inverso, algumas ONGs registraram um aumento nos pedidos de adoção. Mariana Cavalcante de Albuquerque Pacheco, da ONG Resgatinhos de Porto Alegre afirmou que muitas pessoas, por conta da quarentena e de ficarem muito tempo sozinhas, sentiram a necessidade de uma companhia.
“Algumas pessoas, por estarem mais tempo em casa, agora estão procurando gatos para adoção ou lar temporário, aproveitando a disponibilidade de tempo pra adaptar o gatinho ao novo lar”, explica.
Desde o início da semana, a ONG conseguiu resgatar 13 gatos em situação de maus tratos, que agora serão tratados e vacinados para doação. “Achávamos que seria mais difícil, nesse período, inclusive que as pessoas nos procurassem. Mas há, tanto as denúncias para irmos buscá-los, quanto as chamadas de que deseja ter um novo companheiro em casa”, completa.