A Polícia Civil do Rio criou uma espécie de força-tarefa para investigar o atentado contra o canal de humor Porta dos Fundos, na maddrugada da véspera de Natal. Já foram identificados ao menos quatro homens que participaram do ataque à produtora, alvo de coquetéis molotov. De acordo com o delegado titular da 10ª Delegacia de Polícia (Botafogo), Marco Aurélio de Paula Ribeiro, já se sabe quais são as características físicas dos suspeitos, mas ainda não há conclusão sobre a identidade deles. O delegado informou que foram identificados os donos de um carro e uma motocicleta usados durante o ataque, que está sendo tratado como um crime de explosão e uma possível tentativa de homicídio, já que um vigilante da produtora sofreu risco de morrer.
O delegado participou, na manhã desta quinta-feira, de uma reunião com representantes do canal de humor e o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, Fábio Barucke, na sede da corporação, no centro do Rio de Janeiro.
“A preocupação da polícia é demonstrar para a sociedade que essa conduta é grave e que eventuais repetições deste comportamento também serão punidas”, afirmou Ribeiro. “A polícia vai tomar conta e apurar todas as condutas que impliquem em manifestação de opinião e de expressão religiosa das pessoas”, completou.
O ator João Vicente de Castro disse, ao sair do encontro, que “o que aconteceu foi um atentado à liberdade de expressão”.
O enquadramento do caso na Lei Antiterrorismo ainda não é descartado, segundo os delegados que estiveram na reunião e atenderam à imprensa no início da tarde de hoje. “O terrorismo, a princípio, não foi classificado, mas não descartamos qualquer hipótese”, disse Fábio Barucke. “Temos que trabalhar com os fatos até então acontecidos. Foi uma explosão dentro de uma unidade particular e que gerou perigo concreto à vida de uma pessoa que estava no local e sofreu, de fato, uma tentativa de homicídio.” Se o caso vier a ser considerado terrorismo, a tendência é de que a competência do caso passe à Justiça Federal.
O subsecretário da Polícia Civil destacou que a corporação vê o caso como de extrema gravidade e mobilizou uma força-tarefa que envolve também a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). A delegacia especializada coleta provas para chegar à autoria do ataque, supostamente filmado e publicado nas redes sociais por um grupo que se identifica como integralista.
Autoria de vídeo
Segundo Barucke, o grupo que, no vídeo divulgado nessa quarta, teve o nome relacionado à autoria dos ataques nega relação com o ocorrido.
Em nota, a Frente Integralista Brasileira, “movimento político de caráter antiliberal, anticomunista, tradicionalista e nacionalista”, afirmou que repudia o ataque à produtora.
Garante, também, que desconhece o grupo em questão e que o estatuto da frente proíbe o uso de máscaras para fins de militância.
Relembre
O canal Porta dos Fundos vem recebendo ataques virtuais e críticas desde que publicou no Netflix o especial de Natal deste ano, no qual retrata de forma humorística partes da vida de Jesus Cristo, que vive um relacionamento homossexual no longa-metragem. A Polícia Civil ainda analisa a possibilidade de que o atentado tenha alguma relação com o filme.
Na manhã de hoje, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, comentou o ataque à produtora e disse que “a via correta para buscar qualquer eventual reparação” é o Poder Judiciário. “Queremos, no prazo mais rápido possível, encontrar os autores dessa espécie de atentado e dar imediatamente à sociedade às respostas necessárias”, disse o governador a jornalistas no Palácio Guabanara, sede do executivo estadual.