Em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira, o presidente da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas (FCDL) do Rio Grande do Sul, Vitor Augusto Koch, reafirmou ter sido vítima de tentativa de extorsão de opositores para deixar a presidência. É a primeira vez que o presidente – acusado de participar de um suposto esquema de desvio de R$ 10 milhões da entidade – fala à imprensa após a Polícia Civil desencadear a Operação Lojista, em 29 de novembro. O advogado de Vitor Koch entregou hoje, à 1ª DP, dois áudios comprovando, de acordo com ele, que vinha sendo pressionado.
O presidente, durante a coletiva, explicou detalhes sobre a disputa política interna na FCDL e contou que o áudio entregue à polícia mostra uma conversa gravada em que um dos vice-presidentes, Fernando Palaoro, admite a possibilidade de ficar calado sobre supostas irregularidades (dentro da Federação) caso receba R$ 500 mil. Conforme o presidente, foi Palaoro quem levantou as primeiras suspeitas em relação a negócios da FCDL e levou ao Ministério Público, no ano passado, um dossiê apontando Koch como responsável por pagamentos irregulares. Em novembro, a 17ª Delegacia abriu inquérito sobre o caso.
Ainda conforme Vitor Koch, Palaoro procurou uma pessoa da Federação dizendo que tinha um dossiê, mas que podia guardar o material em troca de meio milhão de reais, já que tinha a intenção de se mudar para a Itália. “Inicialmente exigiu R$ 500 mil para não levar adiante o dossiê. Quando lhe foi dito que nada seria pago, ele pediu R$ 100 mil e que o restante poderia ser pago em algumas parcelas, e em dólar”, assegurou. O dirigente disse as denúncias só vieram a tona depois que Palaoro não teve o pedido atendido.
No dossiê entregue à Polícia, há a declaração de um empresário confirmando as supostas irregularidades dentro da FCDL. Koch comentou a fala desse empresário (que não teve o nome divulgado), garantindo que ele também foi coagido a mentir. Um outro áudio, de acordo com o presidente da Federação, também entregue à Polícia, comprova a irregularidade.
Quanto a desvio de valores, com o pagamento de mais de R$ 700 mil pela compra de garrafas de vinho pela FCDL, por exemplo, o presidente explicou que o empresário beneficiado pela operação era parceiro da entidade e possuía três estabelecimentos, entre eles uma adega. Na versão de Vitor Koch, quando ficou sem poder usar notas das outras empresas, esse empresário usou as da adega. O dirigente disse que não tinha conhecimento do uso das notas e só soube disso após a denúncia.
Sobre continuar na Federação, a qual preside há quatro mandatos, desde 2006, Vitor Koch garantiu que se provarem que é culpado e que houve desvio de dinheiro, renuncia ao cargo. Entretanto, ponderou que se deixar a função agora, isso pode parecer que está assumindo a existência de irregularidades. Ainda de acordo com ele, uma assembleia extraordinária, já marcada, vai oficializar a expulsão de Fernando Palaoro da vice-presidência e o afastamento do diretor-financeiro, Moacir Paulo Lodi, que Vitor Koch também garante ter sido gravado no material entregue à Polícia.
Questionado sobre os áudios entregues nessa tarde, o delegado Juliano Ferreira, que investiga as denúncias na 17ª DP, explicou que todos os documentos serão analisados e que, se realmente houve tentativa de extorsão, a Polícia vai descobrir e punir os responsáveis da forma devida. O delegado salientou, ainda, que a Polícia vai instaurar um inquérito à parte para apurar as denúncias de Vitor Koch. Ele disse, no entanto, que ainda não sabe se essa investigação vai ficar a cargo da 1ª DP ou da 17ª DP.
A reportagem tentou contato com Fernando Palaoro e Moacir Lodi e não obteve resposta.