Em 72 anos, Porto Alegre só elegeu 26 vereadores negros e pardos

Para marcar Semana na Consciência Negra, painel online passou a mostrar trajetória do grupo, que corresponde a 3,6% do total

Collares é um dos integrantes da galeria virtual. Foto: Ederson Nunes/CMPA

Dos 711 vereadores que passaram pela tribuna da Câmara Municipal de Porto Alegre, nos últimos 72 anos, apenas 26 eram pardos ou pretos, totalizando 3,6%. Atualmente, dos 36 legisladores, apenas dois pertencem a essas etnias: Karen Santos (PSol) e Cláudio Conceição (DEM). O levantamento leva em conta os 480 titulares e 231 suplentes que atuaram na primeira legislatura, entre 1947 a 1951, após a Constituição de 1946, que restabeleceu o poder das câmaras de vereadores.

Para marcar a Semana da Consciência Negra de 2019, a Câmara Municipal, por meio do Memorial, lançou uma galeria online dos vereadores negros no Legislativo. A plataforma conta com a imagem e biografia dos 26 parlamentares negros, dentre eles Alceu Collares, Ennio Terra, Paulo Cruz e Tarciso Flecha Negra. Já a lista da vereança feminina abrange nomes como os das ex-vereadoras Sônia Saraí e Teresa Franco e da atual vereadora Karen Santos, proponente da galeria.

Se por um lado, menos de 5% da população negra ou parda está representada na Câmara Municipal, dados divulgados no terceiro trimestre pelo IBGE apontaram que 75,4% da população porto-alegrense é de cor branca, 12,4% negra e 11,7% parda.

Para Karen Santos, a representatividade ínfima de políticos negros reflete o estrato da sociedade brasileira, incluindo a Capital gaúcha. “Infelizmente, existem essas barrerias sociais e subjetivas que impedem a formação de quadros de lideranças políticas negras para estarem aqui ocupando o Parlamento. Infelizmente, o Parlamento é um reflexo também de onde estão os negros e as negras nos locais de poder e decisão da nossa sociedade”, adverte. Como alternativa para mudança desse cenário, Karen propõe uma auto-organização de movimentos sociais e da comunidade negra.

Cláudio Conceição também lamenta a falta de força da classe política negra na população como um todo. “Eu acho que é uma representação não representativa, no tocante aos negros em Porto Alegre e no Brasil. De 36, nós somos dois. A nossa voz é muito fraca ainda. Eu tenho trabalhado bastante no sentido de estimular que mais negros possam ocupar esse espaço político. Infelizmente, muitos ficam apenas no nível comunitário e não alçam voos mais altos, no Legislativo, onde as leis são feitas e onde tua voz tem capacidade de ecoar não somente na cidade, mas no Estado”, considera. Mesmo sem opinião formada, o vereador vê com bons olhos discutir a possibilidade de cotas na esfera política, assim como ocorre com as mulheres.