O pianista gaúcho Miguel Proença disse, nesta segunda-feira, que defender a atriz Fernanda Montenegro foi determinante para a exoneração dele da presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Proença prometeu um concerto em homenagem à atriz após, no fim de setembro, o diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte, Roberto Alvim, chamá-la de “intocável” e “mentirosa” em publicação nas redes sociais, que gerou polêmica.
“Irritou profundamente (defender a atriz). A pessoa devia estar contrariada com ela. Não sei o porquê. Fui um dos primeiros a me manifestar. Não pensei em política, pensei em mandar um abraço a uma amiga”, disse Proença, sem citar Alvim. “O que fazer com pessoas que não entendem esse relacionamento com outros artistas e querem impor uma maneira de salvar o mundo através só dá religião? Minha religião é agradar o público”, afirmou o pianista, em declarações publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Nascido em Quaraí (RS), Proença conta ter sido surpreendido pela exoneração, publicada nesta segunda-feira, no Diário Oficial da União. Ele afirmou estranhar que o ato tenha sido assinado por Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, em vez de Osmar Terra, da Cidadania, área responsável pela gestão da Cultura.
Doutor em Música e pianista de renome internacional, Proença, de 80 anos, presidia desde fevereiro a Funarte, que é responsável pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento a artes visuais, música, circo, dança e teatro.
O pianista disse que não tratou sobre a demissão com o presidente Jair Bolsonaro, Terra e Alvim. Ainda afirmou ser “curioso” que apenas ele tenha sido derrubado da fundação. Proença foi convidado pelo ministro Osmar Terra a presidir a Funarte.
O pianista evita criticar declarações de Bolsonaro sobre a cultura. Proença defendem que as políticas do setor devam ser melhor explicadas ao presidente. “A palavra dele é definitiva.”
Alterações
Cotado para assumir a presidência da Funarte ou a Secretaria Especial de Cultura, antigo Ministério da Cultura, Alvim reuniu-se com Bolsonaro na última sexta-feira, dia 1º. Caso vire secretário, o Planalto vai ter como desafio acomodar Alvim e Osmar Terra sob o mesmo teto. A relação de ambos é vista como conturbada no governo.
Como saída, há discussões para transferir a gestão da cultura ao Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.
Proença desejou “sucesso” e disse estar à disposição de Alvim, caso ele assuma a Funarte. No entanto, afirmou que atual diretor do órgão deve trabalhar para o público. “Ele é um ator e diretor que tem talento. Mas, por favor, que dirija para agradar o público e não para agradar autoridades. Ele está fazendo o contrário”, afirmou o pianista. Procurado pela reportagem, o Ministério da Cidadania não se manifestou.