Após duas mortes, operação fecha casa geriátrica clandestina no bairro Ipanema

Duas pessoas foram detidas em flagrante – entre elas, um homem de 26 anos, identificado como proprietário do estabelecimento

Foto: Ricardo Giusti/CP

A Polícia Civil fechou uma clínica clandestina localizada no bairro Ipanema, na zona Sul de Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira. Com apoio do Samu e da Guarda Municipal, 18 pessoas, entre idosos e pacientes psiquiátricos, foram resgatadas do local, que atendia em situação precária. De acordo com a titular da Delegacia de Polícia do Idoso, Cristiane Pires Ramos, eles dormiam sobre fezes e viviam em condições degradantes, sem alimentação e em cômodos molhados por urina. Duas pessoas foram detidas em flagrante – entre elas, um homem de 26 anos, identificado como proprietário do estabelecimento.

A investigação começou com uma denúncia anônima de abandono de incapaz e maus tratos contra 15 idosos em um outro estabelecimento, localizado a três quadras dali, durante o fim de semana. Na última sexta, uma idosa de 68 anos, que vivia no local, morreu no Hospital Vila Nova, após ter sido transferida. No domingo, o dono fechou a casa e levou os moradores para o endereço atual, na rua Engenheiro Jorge Porto.

Na terça, morreu um paciente psiquiátrico, de 38 anos, também encaminhado a uma casa de saúde. “Eles não tinham marcas de violência, então não se verificou o acionamento de polícia. A família nos procurou e vimos que tinha o histórico de maus tratos, fizemos a remoção do corpo do IML e vamos pedir perícia. A princípio, as causas da morte foram naturais, mas podem ter algum nexo causal com essa situação anterior”, explicou Cristiane.

Durante a madrugada, a operação integrada cumpriu mandado de busca e apreensão. No momento em que chegaram ao local, os agentes encontraram um cuidador contratado. “Resolvemos as questões das oitivas, mas estávamos preocupados com os idosos. Pedimos auxílio do Ministério Público e conseguimos fazer um ato quase histórico, de fazer a retirada”, avaliou a delegada. O Samu realizou apoio à ação e verificou a necessidade de envio dos resgatados a um hospital.

Conforme a policial, esse tipo de clínica clandestina é aberta e, quando algum tipo de fiscalização aparece, fecha e muda de endereço e de nome. A Polícia investiga a participação de outras pessoas na manutenção do local.

O titular da Secretaria Municipal de Seguranças Pública, Rafael Oliveira, avaliou que a situação era desumana, o que configura “descomprometimento e falta de responsabilidade”.

O estabelecimento tinha documentação irregular e não possuía alvará da vigilância sanitária.

Responsabilidade dos parentes

A secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia Gerhard, salienta que havia pessoas amarradas e com escárnia. “É deprimente”, ponderou. Nádia disse que é objetivo da Pasta oferecer políticas públicas que venham a cuidar dessas pessoas”, mas ressaltou que é preciso uma simbiose com a sociedade.

“Temos que fazer o levantamento do parente que deixa os idosos aqui e em locais sem a menor condição de higiene, de alimentação adequada e de remédios. Isso não pode ser assim. Há muita negligência”, lamentou.

Pelos registros da SMDE, existem em Porto Alegre 141 estabelecimentos autorizados a atuar como clínicas geriátricas regulares.