Esta é velha e me contaram quando eu era criança pequena lá em Bagé onde nasci e me criei para depois me perder e me encontrar por esse mundo de meu Deus.
O Albino era um funcionário dos buenos que trabalhava com chuva ou sol, debaixo do mau tempo, lá estava ele à postos, nunca se atrasava e tampouco faltava ao serviço.
Sendo responsável pela estação ferroviária da Rainha da Fonteira, minha terra, servia de referência para a corporação.Sempre nos trinques, destacava-se pelo uso de um casacão de lã, comprido e de cor preta, chamado popularmente pelos ” de fronteira” de “sobretudo“. Tal peça lhe acompanhava, inverno e verão, sendo avistado de lejos quando em serviço, nas chegadas e partidas e liberação dos trens.
Se lhe indagavam porque o uso contínuo da peça mesmo no “bafor” do verão, respondia educadamente que gostava e se sentia bem dentro do seu casaco mais propício aos tempos frios.
Até que um dia, o Inspetor Regional apareceu para uma inspeção rotineira e depois de constatar que tudo estava dentro dos “conformes” indaga ao Albino o porquê do uso do “sobretudo” no que imediatamente lhe respondeu que usava porque gostava e pronto.E mais ainda, que no verão era quente, mas que pra ele estava tudo bem.
O Inspetor surpreso lhe diz que não gostaria de vê-lo suando no forte do verão por causa do tal casacão no que Albino contestou dizendo que não podia tirar porque eram ordens superiores e que inclusive havia recebido tal mando por escrito .
O Inspetor pede para ver o tal mandado no que Albino correndo se bandeou à cata do papel voltando como um pé de vento e… suando é claro e ainda se explicando porque usava o tal casaco de lã.
O tal memorando vindo da sede da RFFSA dizia o seguinte: “é obrigatório o uso de uniformes, SOBRETUDO, na chegada e saída dos trens”.
Tapado de razão, segurando garbosamente seu “sobretudo”, o chefe da estação, comenta:-” o Sr. viu, tá escrito aí, e pra mim, ordens são ordens””
Para não causar constrangimento, o inspetor regional encerrou o assunto dizendo:- Muito bem, a partir de agora, o sr fica liberado do uso do “sobretudo” na chegada e saída dos trens. Fique à vontade, só use se quiser.”