“Me chamam de grosso, eu não tiro a razão;
Eu reconheço a minha grossura;
Mas, sei tratar a qualquer a qualquer cidadão,até representa que eu tenho cultura;
Eu aprendi na escola do mundo,
Não fui falquejado em bancos colegiais;
Eu não tive tempo de ser vagabundo,
Porque quem trabalha vergonha não faz.”
Gildo de Freitas foi um dos maiores nomes da música gaúcha , sem dúvida, e se tornou conhecido por ser um dos melhores trovadores de sua época, tanto que o chamam até hoje -“o Rei dos Trovadores”, por isso foi criado um estilo de trova que leva o seu nome.
Batizado como Leovegildo, ficou conhecido desde cedo como Gildo.
Nascido no Passo D’areia, no dia 19 de julho (que até então era zona rural de Porto Alegre), filho da gaúcha Georgínia de Freitas e do castelhano Vergílio José de Freitas, produtor de hortaliças.
Em 1931, Gildo de Freitas fugiu de casa pela primeira vez, aos 12 anos de idade. Em 1937 é tido como desertor, por não ter se apresentado à convocação militar. Envolveu-se na primeira briga séria, onde morreu um jovem amigo, e foi preso pela primeira vez.
Em 1941, casou-se com Dona Carminha, passando a ter morada fixa no bairro de Niterói, em Canoas, Grande Porto Alegre. E os contratempos com a polícia continuaram. Em 1944 nasceu o seu primeiro filho.
Gildo, nessa época, começou a viajar e a ser reconhecido como trovador. Em 1949 o trovador, já com fama em todo o Estado do Rio Grande do Sul, desapareceu de casa, reaparecendo na fronteira gaúcha.
Em longa temporada passada no Alegrete, o cantor mal conseguia caminhar, em decorrência de uma paralisia nas pernas.
Aprendeu a tocar gaita de 8 baixos sozinho. Não completou o ensino primário, mas conhecia como poucos a lida campeira, o que acabou por tornar uma das maiores fontes de sua inspiração. Gildo sempre teve facilidade para compor sobre qualquer tema
Aos 18 anos Gildo de Freitas animava bailes em diversos locais da Região Metropolitana. Um desses bailes foi interrompido no meio da noite pela polícia. Otávio de 17 anos, amigo de Gildo e responsável pela música juntamente, era um guri esquentado. Reagiu a ordem dos policiais dizendo que não iriam parar com o som coisa nenhuma. Os policiais por sua vez não admitiram ter suas ordem não obedecida. O clima esquentou, garrafas e cadeiras voaram para todos os lados e Otávio acabou baleado.
Ao ver a queda do amigo, Gildo resolveu se entregar. Terminando com as brigas imaginou que o parceiro receberia atendimento logo. Acabou sendo pior! Dominado pela polícia, apanhou ainda mais. E ao ser informado da morte do companheiro, revoltou-se tanto que jamais conseguiria encarar um homem fardado sem reagir de forma violenta pelo o resto de sua vida.
Dizem que foi preciso cinco policiais para colocar Gildo dentro da cela.
Por essas e por outras se diz que Gildo de Freitas, gaiteiro, trovador, poeta popular e um grande brigão jamais entrou em pé em uma delegacia. Em todas às vezes (foram várias) que foi preso precisou ser arrastado para a cadeia e por muitos policias.
Gildo andava sempre armado. Ou um revólver, ou uma faca na cintura. Em 1950, ao conhecer Getúlio Vargas, em São Borja, cessam as prisões. Em 1956, Gildo é a principal atração do Programa Grande Rodeio Coringa, nas noites de domingo, na Rádio Farroupilha. Nesse período, ele faz parcerias com Teixeirinha. No início da década de 1960, o rádio começa a perder para a televisão. Gildo abandona a arte para se dedicar à criação de suínos.
Em 1964, o primeiro álbum da carreira começava com o sucesso “História dos Passarinhos”. Um ano mais tarde, lança o segundo disco, “Vida de Camponês”. A música “Baile de Respeito” dá início à disputa com Teixeirinha, que retrucaria com “Baile de mais Respeito”. O entrevero entre a dupla teria sido uma estratégia para que ambos vendessem mais discos, o certo é que eram amigos sim.
Existem algumas histórias que merecem referência, como por exemplo a música “Prova de Repentista”. A música inicia com o locutor anunciando Gildo de Freitas ao palco e pede para que a plateia escolhesse um tema para que o Gildo fizesse os seus versos. Então um malandro prende o grito: “fala sobre a vovozinha!!!” Então o locutor interviu, em defesa de Gildo, que o mesmo mudasse o tema. Porém, como esperado, Gildo de Freitas não vê problema algum com o tema, e acaba dando no meio do malandrão que quis pegar ele no pulo.
A prosa se torna grande quando se fala sobre o Gildo, ainda mais por ser uma figura única no nosso cenário gaúcho. O que devemos sempre deixar registrado, é que graças a ele um novo estilo de música nasceu. Versos simples. Versos sobre as coisas de nossa terra. Sempre tratando em suas letras o respeito com os mais velhos, com as mulheres, com qualquer pessoa que mereça respeito. E é claro, falar mal dos que não merecem respeito.
Nos idos de 1953 e 1954 começou a ficar famoso como trovador nos programas de rádio ao vivo, em Porto Alegre , voltando a viver com a família no bairro Passo d`Areia.
Em 1955, encontrou-se com Teixeirinha, passando a se identificar muito com ele. Começou a realizar muitas viagens, mudando-se para o bairro Passo do Feijó e abrindo o seu primeiro bolicho.Ele e Teixeirinha tinham estilos parecidos e eram rivais só na música pois na realidade havia uma amizade e respeito entre eles.
Ente 1956 e 1960 foi a maior atração do programa Grande Rodeio Coringa, que ia ao ar aos domingos à noite. Passou, então, a viajar mais com Teixeirinha. E a partir de 1961, com o declínio dos programas de rádio ao vivo e o início da televisão, Gildo resolveu abandonar a carreira de cantor e se propôs a criar porcos.
Em 1963, viajou a São Paulo para gravar o seu primeiro disco. Em 1964 é lançado o seu primeiro LP, mas, em meados do ano, é convidado a prestar depoimento sobre as suas ligações com o Trabalhismo.
No ano de 1965 iniciou a sua célebre disputa com Teixeirinha, por meio dos discos. Convidado por Jango para viver no Uruguai, Gildo não aceitou.
Entre 1970 e 1977, foi várias vezes internado em hospitais. No entanto, obteve sucesso popular nas gravações e realizou muitas viagens.
Nesse período, a sua disputa com Teixeirinha chegou ao seu ponto máximo. Mudou-se, então, para Viamão e, em 1978, inaugurou naquela cidade a Churrascaria Gildo de Freitas, dando início aos bailões.
Em 1982 gravou o seu último disco, pela mesma gravadora dos seus trabalhos musicais anteriores: a Continental. Deu-se também a sua última internação em hospital e as suas últimas aparições públicas em programas de TV.
Gildo morreu em 04 de dezembro de 1983 e foi enterrado como desejava: pilchado e sem caixão. Está escrito na sua lápide: “Aqui descansa um gaúcho que honrou a tradição”.
(Pesquisa feita à partir de uma entrevista ao programa Nos Quadrantes do Sul da Rádio Guaíba, com Jorge de Freitas, filho de Gildo de Freitas)