Se relatos mais emotivos marcaram a parte da manhã do julgamento dos acusados no Caso Bernardo, momentos mais tensos foram a tônica da tarde desta terça-feira, no Fórum de Três Passos. Única testemunha arrolada tanto pela acusação quanto pela defesa de Leandro Boldrini, a ex-secretária da clínica do médico, Andressa Wagner, se contradisse algumas vezes quando questionada pelo Ministério Público (MP) sobre a assinatura do ex-chefe, que supostamente estava na receita do Midazolam, medicamento que, conforme a perícia, foi utilizado em superdosagem na execução do menino.
O promotor Ederson Vieira questionou incisivamente a testemunha, que trabalhou cerca de cinco anos com Boldrini, sobre as assinaturas presentes em receitas do réu. “A senhora disse que era sempre a mesma, agora vai dizer qual era a dele”, disse, ao mostrar duas assinaturas diferentes. “A assinatura do doutor Boldrini era bem variada”, comentou Andressa, ao se deparar com os documentos. “Mas a senhora acabou de dizer que era sempre a mesma”, contrapôs acusação.
O MP seguiu insistindo, mostrando os documentos à testemunha. Ela vacilou em algumas respostas, em alguns momentos dizendo que pareciam diferentes, em outros explicando que não recordava qual era a oficial. O promotor, então, questionou: “Em algum momento ele reclamou ou chegou ao conhecimento dele que um procedimento tivesse sido feito sem a assinatura dele?”. Andressa negou: “Ele variava muito nas assinaturas. Às vezes, tava com pressa e fazia um rabisco”.
Diferente de outras testemunhas, Andressa Wagner afirmou que não queria ser fotografada ou pela imprensa. Quando questionada pelos advogados de defesa de Leandro Boldrini o motivo pelo qual tomou essa decisão, ela começou a chorar e disse que não queria falar sobre isso. O representante do réu ainda perguntou para ela há quanto tempo não se deparava com a assinatura do médico e antigo chefe. Ela respondeu que desde 2014, quando trabalhava em sua clínica. Contou também que sentiu diversos sentimentos por Boldrini, como gratidão e também raiva.
Reprodução de vídeos deixam clima pesado
Uma das testemunhas arroladas pela defesa de Leandro Boldrini, a técnica em enfermagem e ex-funcionária do médico, Marlise Cecília Henz, relatou que não acreditava que o antigo chefe tivesse participado do assassinado do próprio filho. Ela comentou, no entanto, que não havia assistido aos vídeos divulgados à época, que mostravam o clima familiar a que o menino era submetido. O MP, então, reproduziu as imagens.
Foi um dos momentos em que o clima ficou mais pesado durante o julgamento. Foram cerca de 15 minutos de exibição e reprodução de trechos. No vídeo mostrado, Graciele Ugulini, madrasta de Bernardo, e Leandro, registram o menino gritando repetidamente por socorro. No final, discutem com ele e o ameaçam. Assim que a gravação parou de ser mostrada, Cecília pareceu espantada, mas afirmou que ainda não acreditava no envolvimento do médico.
A opinião a respeito de Graciele, porém, era bem diferente. Um relato nesse sentido foi quando relembrou o dia em que Bernardo procurou a Justiça para reclamar a desatenção familiar. A testemunha declarou não ter visto desamor por parte de Leandro, mas que a madrasta se revoltou. “Ela chegou, deu um soco na mesa e disse que ia contratar um matador de aluguel para matar o Bernardo. Nunca falei isso com o doutor Leandro”, depôs a ex-funcionária, que afirmou ter achado que não seria uma ameaça real.
Restam seis testemunhas no julgamento
A assinatura de Leandro Boldrini voltará a ser foco de discussões na última testemunha a ser ouvida. Luiz Gabriel Passos, perito arrolado pela defesa, deve dar depoimento de cerca de cinco horas. A intenção dos advogados do médico será provar de que a receita do Midazolam não foi assinada pelo pai do menino Bernardo.
Antes dele, ainda serão ouvidas outras cinco testemunhas: Luiz Omar, que trabalhou com Leandro Boldrini; Paulo e Wilson Boldrini, irmãos do réu; Sônia, sua cunhada; e Maria Lúcia Cremonese, professora de Bernardo. Até aqui, foram ouvidas oito testemunhas. Depois do primeiro dia, em que depuseram duas delegadas envolvidas nas investigações do crime, a terça-feira contou com seis depoimentos.
Além de Juçara Petry, Ariane Schmitt, Andressa Wagner e Marlise Cecília Henz, foram questionadas Lori Helle, ex-babá de Bernardo, e Rosângela Pinheiro, ex-funcionária do hospital em que Leandro trabalhava. Esses últimos depoimentos, contudo, duraram apenas cerca de 15 minutos cada.