Cada vez mais inseridas no mercado de trabalho, mas, em geral, atuando em posições menos valorizadas e recebendo menos que colegas do sexo masculino em cargos iguais. Essa é a realidade das mulheres nas relações empregatícias no Brasil, conforme o estudo “Diferença do rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais – Pnad Contínua 2018”, divulgada nesta sexta-feira. Mesmo com uma leve queda na desigualdade salarial entre 2012 e no ano passado, elas ainda ganham, em média, 20,5% menos que eles.
Em 2018, a população ocupada de 25 a 49 anos totalizou 56,4 milhões de pessoas no País, e o valor médio da hora trabalhada foi de R$ 13 para mulheres e de R$ 14,2 para os homens, indicando que a remuneração delas representava 91,5% da deles. Quando analisada a razão pelo valor do salário médio total, a proporção diminuía, sendo de 79,5%: R$ 2.050 ante R$ 2.579.
A comparação das jornadas de trabalho mostrava um número inferior de horas trabalhadas na semana por elas, em diferentes segmentos. Foram 37,9 horas de serviço profissional contra 42,7 horas dos homens. Como os dados excluem as horas dedicadas a afazeres domésticos e cuidados de pessoas, o resultado indica que as mulheres ainda cabe o estigma de donas de casa. Essa diferença apresenta uma redução em comparação a 2012, quando era de 6 horas, mas a queda foi decorrente ao fato deles trabalharem menos.
Mulheres mais velhas recebem menos
No estudo, a população foi divida em três faixas etários: 25 a 29 anos, 30 a 39 anos e 40 a 49 anos de idade, e observou-se, em todos os anos da série, a tendência de queda da razão do rendimento da mulher com o crescimento da idade. Aquelas no primeiro grupo recebiam 86,9% do rendimento médio do homem; as do segundo 81,6%, enquanto as mais velhas apenas 74,9%. Nesse último, a remuneração era de R$ 2.199 ante R$ 2.935. Conforme o IBGE, o movimento de queda nesta proporção acompanha a redução da jornada média: no grupo de 25 a 29 anos de idade ela trabalha cerca de 3,6 horas a menos que o homem da mesma idade e no de grupo de 40 a 49 anos a diferença chegava a 5,4 horas em 2018.
A desagregação simultânea do rendimento médio mostrando que as mulheres têm rendimento inferior ao dos homens. Contudo, em 2018, o rendimento médio da população ocupada de cor preta ou parda correspondia, em média, a apenas 60% daquela de cor branca. Verificou-se que o ganho das brancas em relação aos brancos (76,2%) era menor que a razão com negros ou pardos (80,1%). Isso é explicado porque esta população ter maior participação em ocupações de rendimentos mais baixos, muitas vezes, baseadas em piso mínimo.
Qualificação não resulta em salários iguais
Para a análise no nível mais desagregado foram selecionadas ocupações que tinham tanto rendimento baixo quanto elevado; que estavam associadas a níveis de instrução distintos e que apresentavam baixa ou elevada participação de mulheres. A seleção mostrou diversos patamares de diferença de rendimento em ocupações iguais. Os “médicos especialistas” tinham o maior rendimento (R$14.929) e os “trabalhadores dos serviços domésticos” o menor (R$855). Em todos os casos, o percentual do rendimento médio recebido pelas mulheres era inferior ao dos homens, independentemente da ocupação apresentar baixa ou elevada participação feminina no contingente de ocupados.
Isso significa que a qualificação profissional não resulta em salários mais igualitários. Nas ocupações de “médicos especialistas” e “advogados”, que mostravam relativo equilíbrio nas relações de gênero (52% são mulheres) e demandam nível de instrução mais elevado em ambos os casos, a diferença de rendimento aumentava, com percentuais de proporcionalidade que diminuíam para 71,8% e 72,6%, respectivamente. Contudo, entre as ocupações com a maior desigualdade, podem ser destacados os agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e dos gerentes de comércios varejistas e atacadistas, em que mulheres recebem 35,8% e 34% menos que os homens, respectivamente.