FHC considera governo Bolsonaro sem rumo e destaca sensatez do núcleo militar no Planalto

Em entrevista à Rádio Guaíba, ex-presidente defendeu a reforma da Previdência, enalteceu nome de Eduardo Leite e recomendou novas eleições para superar crise na Venezuela

Foto: Reprodução Facebook / CP

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso considera que as distintas alas do governo Bolsonaro não estão trabalhando em sintonia nestes dois primeiros meses de gestão no Palácio do Planalto. Além de não ter um rumo específico, a atual administração também vêm protagonizando diferentes equívocos, que acabam logo sendo revistos, como o episódio envolvendo a obrigatoriedade para que alunos cantassem o hino nacional.

“Não existe ainda um rumo definido. Talvez haja uma ideia mais clara, no setor econômico, uma preocupação grande com a Previdência, mas eu noto que não existe ainda um rumo muito definido. Eu não percebo uma linha clara, existe muito vai e vem. A gente vê toda hora uma espécie de desmentido do que se disse ontem”, avaliou.

Em entrevista à Rádio Guaíba, o ex-presidente analisou diferentes pontos do cenário político e destacou a maior habilidade do vice-presidente, Hamilton Mourão, em manejar os primeiros problemas enfrentados pelo Planalto. “Eu não quero fazer comparações com o presidente da República em razão de respeito, mas a força de contenção demonstrada pelos militares, hoje, é inegável. Eles são mais experientes e tem maior sensatez. Espero que o presidente não seja insensato”, ressaltou.

Sobre a área econômica, Fernando Henrique Cardoso recomenda que o governo federal encaminhe o quanto antes um segundo projeto para rever a aposentadoria dos militares para evitar que haja privilégios na reforma da Previdência. “Aos trancos e barrancos estamos fazendo uma reforma da Previdência. Mas, a sociedade não entende bem e o Congresso reflete a sociedade e portanto diminui o impacto para que ela tenha eficácia”, emendou.

Para FHC, a judicialização da política também ganhou papel de destaque no Brasil em função dos problemas ocasionados pelo Legislativo. “Na medida em que o Congresso foi perdendo unidade e se fragmentando é natural que o Supremo tenha ganhando maior relevância e responsabilidade. O Supremo tem que assumir esta responsabilidade, mas entender qual é o seu papel constitucional e não imaginar que pode tomar certas decisões que cabem ao Congresso”, salientou.

O ex-presidente também foi taxativo ao afirmar que a crise venezuelana será superada apenas por meio de uma nova eleição democrática. “A Venezuela é uma confusão, está numa situação complicada e não vai sair deste buraco, se não fizer uma nova eleição. A Venezuela perdeu o rumo. Vai ter que ter uma chacoalhada grande, mas não adianta fazer intervenção interna”, disse.

Por fim, FHC ainda teceu elogios ao governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), ao afirmar que ele pode realizar voos maiores, inclusive, disputando internamento apoio no partido para uma eventual candidatura à presidência. “O Eduardo Leite tem valores, acredita em coisas e teve uma votação consagrada na sua cidade. É indiscutivelmente uma liderança importante e nova. O momento é para gente nova. Mas, eu não quero me antecipar”, concluiu.