MP de Goiás entrega segunda denúncia contra João de Deus

Peça leva em conta a apuração de 13 casos, mas oito já prescreveram

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasi

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) apresentou hoje à Justiça estadual a segunda denúncia contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Preso em caráter preventivo desde 16 de dezembro, João de Deus é acusado de cometer crimes de estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Ele garante nunca ter abusado de frequentadoras do centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).

Os promotores da força-tarefa do MP-GO entregaram a primeira denúncia contra o médium em 28 de dezembro. A Justiça estadual aceitou a peça em 9 de janeiro. Hoje, além da segunda denúncia, os promotores apresentaram à Justiça um novo pedido de prisão em nome do médium. João de Deus está detido no Centro de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital.

“O trabalho do Ministério Público não se encerra aqui. Há ainda uma série de relatos que vão ser instruídos. Vamos continuar ouvindo eventuais vítimas e, embora possa se tratar de um certo número de vítimas, este número não representa o total de vítimas abusadas, que pode ser muito maior”, disse o promotor Luciano Meireles.

Segundo a promotora Gabriella de Queiroz, a nova denúncia está embasada na apuração de 13 supostos casos, dos quais oito já prescreveram, ou seja, já não podem mais ser levados a julgamento. Entre as mulheres que se apresentam como vítimas do médium, algumas dizem ter sofrido abusos sexuais quando eram crianças ou adolescentes. Além de levar adiante a denúncia de cinco das supostas vítimas cujos casos não estão prescritos, os promotores indicarão as outras oito supostas vítimas como testemunhas, anexado os depoimentos delas ao processo.

“Temos cinco delitos imputados ao denunciado. Destes, quatro correspondem ao crime de estupro de vulnerável – um deles em continuidade delitiva. O quinto crime imputado é o de violação sexual mediante fraude”, explicou a promotora.

O prazo máximo para que a denúncia ser apresentada é de 20 anos, tempo legalmente reduzido por uma série de circunstâncias, como a idade do denunciado – 76 anos, no caso de João de Deus.

Para o MP-GO, os 13 casos ocorreram entre o início de 1990 e meados de 2018. As vítimas são de oito unidades da Federação: Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.

De acordo com a promotora, há evidências de que os crimes de violação sexual mediante fraude foram praticados diante de outras pessoas, durante sessões de atendimento espiritual conduzidas por João de Deus no centro espírita. Já o suposto caso de estupro de vulnerável ocorreu, segundo a denúncia, em ambiente isolado da Casa Dom Inácio de Loyola, onde a denunciante garante ter ficado sozinha com o médium.

Para o promotor Augusto César Souza, a segunda denúncia contra João de Deus reforça a necessidade de que o médium permaneça preso. Ao depor, as vítimas disseram não ter procurado a Justiça antes por medo de represálias.

A reportagem procurou os advogados do médium, mas ainda não teve retorno.