O jornal Folha de S.Paulo informou hoje que entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitando que a Polícia Federal (PF) investigue ameaças a profissionais do veículo.
Após a publicação de reportagens investigativas sobre a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), a autora da matéria, jornalista Patrícia Campos Mello, recebeu centenas de ameaças e ofensas sobretudo via Internet. Outros dois jornalistas que participaram da apuração da reportagem também vêm sofrendo ameaças, acrescentou o jornal em comunicado. O diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, também foi alvo de ameaças por redes sociais e em casa.
A Folha disse ter identificado uma “ação orquestrada contra a liberdade de expressão”. Segundo o jornal, as ameaças se alastraram por grupos de apoio ao presidenciável do PSL no WhatsApp.
No dia 19 de outubro, a Folha publicou reportagem denunciando um esquema de compra de envio de mensagens em massa no aplicativo WhatsApp supostamente bancado por empresários favoráveis a Bolsonaro. Bolsonaro e executivos citados na reportagem negaram qualquer envolvimento.
A compra de mensagens pró-Bolsonaro no aplicativo de celular motivou ações junto ao TSE, que investiga o caso com apoio da Polícia Federal (PF). Por causa da abertura dessas investigações, a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, e outros ministros foram ontem ameaçados e xingados em vídeo divulgado nas redes sociais por um coronel da reserva.
O autor do vídeo, Carlos Alves, já é alvo de inquérito da PF, aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), após receber solicitação do próprio Supremo Tribunal Federal (STF).
O Ministério do Exército também condenou as declarações do coronel da reserva e afirmou que ele não representa as posições da Força, além de informar que a conduta já é alvo de apuração na esfera militar.
Perseguição a jornalista
A autora da reportagem sobre o disparo em massa de mensagens pró-Bolsonaro, Patrícia Campos Mello, passou a receber ameaças de partidários do presidenciável do PSL, segundo relatou a Folha de S.Paulo. Em redes sociais, ela foi xingada e acusada de ter sido “comprada pelo PT”. Segundo a Folha, a jornalista teve a conta no WhatsApp invadida. Os hackers enviaram mensagens a favor do candidato do PSL para contatos armazenados e ela recebeu ameaças por telefone de números que desconhece.
Ainda de acordo com a Folha, circularam imagens entre apoiadores de Bolsonaro incitando eleitores a confrontar a jornalista em uma palestra marcada para o dia 29, além de uma montagem onde ela aparece abraçada ao candidato do PT, Fernando Haddad. Patrícia Campos Mello teve de fechar a conta no Twitter – passando a permitir apenas interação com seguidores que autoriza previamente.
No domingo, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) afirmou a seguidores que a Folha de S.Paulo é “o maior fake news do Brasil, imprensa vendida”. O candidato criticou o jornal diversas vezes em razão da reportagem publicada. Em entrevista à Rádio Justiça, a advogada do PSL, Karina Kufa, afirmou que a denúncia não teve base documental e que qualquer caso de apoio espontâneo não teve anuência do candidato.
Repercussão
A Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo emitiram nota na semana passada em que condenaram os ataques a Patrícia Campos Mello e a profissionais do jornal.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo também se manifestou em favor da profissional, reconhecida pela experiência e contribuição para a imprensa brasileira.
No início do mês, a Abraji divulgou levantamento em que identificou pelo menos 130 agressões a profissionais de imprensa cobrindo eleições. Foram 75 ataques por meios digitais, como redes sociais, e 62 físicos.
A Agência Brasil entrou em contato com a Polícia Federal para obter informações sobre o pedido do jornal e aguarda retorno. O TSE informou que a denúncia da Folha tramita em sigilo.