Relatório do Conselho responsabiliza ex-dirigentes do Inter

Documento aponta gestão temerária por parte de nomes como Vitorio Piffero e Pedro Affatato

Relatório aponta supostas irregularidades na gestão de Vitorio Piffero no Inter | Foto: Guilherme Testa / CP Memória

A comissão do Conselho Deliberativo (CD) encarregada de investigar possíveis irregularidades e mau uso dos recursos do Inter durante a gestão de Vitorio Piffero finalizou o seu trabalho. Na última segunda-feira, o presidente do CD, Sérgio Juchem, recebeu o relatório que tem 83 páginas e o enviou a oito dirigentes daquela época e para a atual diretoria. Cada uma das cópias é diferente – na forma, mas não no conteúdo – e foi numerada para evitar seu vazamento. A reportagem do CP, porém, teve acesso à totalidade do relatório, que evidencia a formação de um esquema que drenou irregularmente recursos financeiros do clube durante todo o tempo do mandato de Piffero, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016.

Os conselheiros que participaram da comissão, presidida por Ubaldo Flores, recolheram e analisaram documentos e fizeram diligências em várias cidades do Rio Grande do Sul e até em Santa Catarina para comprovar as fraudes. Encontraram evidências suficientes, segundo eles, para comprovar gestão temerária por parte de alguns dirigentes, entre eles o próprio Piffero e o seu vice-presidente de finanças, Pedro Affatato.

O assunto voltará para o CD, que se reunirá para avaliar se aplica ou não as penas previstas na Lei do Profut para o caso, que é tornar inelegíveis os dirigentes envolvidos. Uma reunião para tratar do assunto deverá ocorrer nas próximas semanas.

Entre os 14 pontos levantados pela Comissão de Sindicância e explicitados no relatório, destaque para a contratação de quatro empresas de construção civil, totalizando gastos de quase R$ 10 milhões. O assunto é tema de investigação do CP há dois anos. Em agosto de 2016, o jornal publicou a primeira matéria confirmando, por meio de informações contidas em um relatório da Ernest & Young, a existência de irregularidades na contratação de tais empresas.

O relatório da auditoria é taxativo neste ponto: “Embora atingindo valores muito altos (cerca de R$ 10 milhões), as obras e serviços, descritos genericamente nas centenas de notas fiscais das cinco empresas simplesmente não se localizam no Complexo Beira-Rio, no Parque Gigante, no CT de Alvorada ou na área destinada ao CT de Guaíba”, afirma um trecho do documento.

Outro ponto do relatório, que, inclusive é analisado conjuntamente com a contratação das quatro empresas, é o grande número de adiantamentos feitos em dinheiro e em altas quantias para Affatato. Segundo o relatório, “nada justifica os mais de 140 adiantamentos sacados pelo ex-Vice-Presidente de Finanças Pedro Affatato, em quantias que atingiram cerca de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), retirados em dinheiro vivo, pessoalmente, do Caixa da Tesouraria do Clube, supostamente para pagar empresas inativas ou inexistentes, sem qualquer contrato, por obras e serviços que nunca existiram”.

Em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público, que também investiga a gestão Piffero, um funcionário do clube, que o CP não citará o nome para preservá-lo, confirmou que “a prática dos adiantamentos de grandes valores, bem como a compensação por notas pelo vice de finanças, eram absolutamente incomuns e não acontecia nas gestões passadas, constituindo fato inédito”.

O relatório também aponta gastos “inadequados e abusivos” com os cartões corporativos do clube. Mais uma vez, Affatato é um dos apontados pelos investigadores. Tais gastos foram encontrados em vários restaurantes de Porto Alegre e até no Rio de Janeiro, totalizando cerca de R$ 180 mil no período. “Eram gastos exorbitantes, sem qualquer controle ou limite, que evidenciam como eram tratados os recursos do Internacional no período da gestão 2015/16”.

O CP entrou em contato com Affatato. Ele disse que foi orientado por seus advogados a não dar declarações, mas afirmou que espera que os “fatos sejam esclarecidos no local adequado”. Vitorio Piffero, após a publicação desta matéria, enviou a seguinte nota oficial:

NOTA OFICIAL

Recebi com indignação, mas não com surpresa, o relatório final da Comissão Especial Do Conselho Deliberativo.

Repetidas vezes ao longo dos seus trabalhos, me negou acesso a documentos importantes. Esta comissão não foi capaz de apontar um documento sequer ou mesmo uma testemunha que imputasse qualquer ação irregular ou improba por mim praticada.

Lamentavelmente este relatório é fruto da contaminação política no ambiente do nosso clube.

Vou me defender com a mesma bravura que conduzi nosso clube em 15 títulos no campo. Desde uma singela RECOPA GAUCHA, até o MUNDIAL FIFA, BI DA LIBERTADORES e campeão de TUDO.

Tenho certeza do apoio e inteligência do nosso torcedor, que esteve sempre junto no projeto dos 100 mil sócios, ou até mesmo nos momentos difíceis vividos no ano de 2016.

Formalmente, ora declaro que, na condição de ex-presidente e conselheiro nato, não me submeto e não reconheço legitimidade a esta comissão de sindicância. Trata-se de parecer exclusivamente político, sem apoio, em fato ou ato que desabone minha conduta de presidente do S.C.INTERNACIONAL”