Após investida dos Estados Unidos para mudar uma resolução da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre defesa e promoção do aleitamento materno, pediatras e entidades brasileiras criticaram a ação dos norte-americanos e sugerem posicionamento do Brasil nos fóruns internacionais em defesa da amamentação.
Na última terça-feira, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nota pública criticando a posição da delegação dos Estados Unidos na reunião de maio da OMS, em Genebra, na Suíça. Em entrevista à Agência Brasil, o 1º vice-presidente da SBP, Clóvis Constantino, propôs reuniões entre representantes da entidade e especialistas com representantes dos ministérios da Saúde, das Relações Exteriores e do Trabalho para formular propostas que possam ser apresentadas pelo governo brasileiro nos fóruns internacionais.
“Cidadãos saudáveis significa segurança de uma nação. A gente entende que a cidadania saudável começa no início da vida e o aleitamento materno faz parte dessa saúde”, disse. Na promoção do aleitamento materno no país, o médico defende a licença-maternidade de seis meses para trabalhadoras públicas e do setor privado, aumento no número de locais de amamentação e a ampliação da licença-paternidade.
Durante reunião, em maio, da Assembleia Mundial da Saúde, promovida pela OMS, representantes dos Estados Unidos tentaram retirar trecho de uma resolução que prevê que os países devem proteger e promover a amamentação. O texto recomenda ainda que os governos coíbam propaganda e campanhas para uso de fórmulas industrializadas em substituição ao leite materno.
De acordo com reportagem do jornal The New York Times, a investida seria a favor dos fabricantes de fórmulas infantis. Apesar da ação, os EUA não conseguiram eliminar o trecho do texto final. A recomendação da OMS, órgão das Nações Unidas, se baseou em estudos de décadas que comprovaram que o leite materno é o alimento mais saudável para as crianças. Brasil e aleitamento materno A política brasileira de aleitamento materno é referência em outras partes do mundo.
Segundo a gerente do Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Danielle Aparecida da Silva, o modelo, adotado desde os anos 80 e atualizado com frequência, é seguido por 23 países, que compõem a rede internacional de bancos de leite na América Latina, Península Ibérica, no Caribe e na África.
Nos últimos anos, técnicos da Fiocruz têm recebido estrangeiros que querem conhecer o trabalho e também foram aos países para a formação de equipes e auxiliar na implantação de bancos de leite. Conforme a engenheira de alimentos, uma mudança que fortaleceu o aleitamento no país foi “trazer a mulher para o centro da cena”, ao deixar de ser vista apenas como a que produz o leite, mas também a que precisa de apoio e atenção, especialmente, para aquelas com filho prematuro.
O Brasil é o país com o maior número de bancos de leite (220) e de postos de coleta (195). “Os bancos de leite, mais do que tudo, são centros de promoção e apoio ao aleitamento materno, independente se for uma mãe de bebê a termo [que nasce no prazo previsto] ou de um bebê que nasceu prematuro”, afirmou Danielle Silva à Agência Brasil. Nos bancos, o leite doado é analisado individualmente e não há mistura do alimento, o que permite oferecer diferentes tipos de leite e atender as necessidades específicas dos recém-nascidos.