A coordenadora estadual do Movimento Brasil Liberal (MBL), Paula Cassol, denunciou hoje ter sido agredida e impedida de realizar gravações no interior do Instituto Goethe ainda nesta quarta-feira, quando foi ao local buscar informações sobre o movimento em defesa da exposição que ocorria no espaço. O Goethe Institut de Porto Alegre está no centro de uma polêmica envolvendo manifestações artísticas com a figura de Jesus Cristo. Após um painel ser grafitado junto ao muro do instituto na Capital gaúcha ilustrando uma representação do Cristo decapitado, a obra foi apagada na madrugada de terça e, ao lado, foi pichada a frase “ele ressuscitou.” O mural era de criação de Rafael Augustaitiz e Amaro Abreu, como parte da exposição Pixo/Grafite: Realidades Paralelas.
Paula também criticou os autores da obra em questão, e disse que “o autor se embasa em artistas satanistas e pedófilos.” “O que me choca é que se uma exposição foi feita para chocar as pessoas, porque agora eles estão surpresos que as pessoas tiveram essa reação?”, questiona. Ela ainda complementa que foi “hostilizada, escorraçada e quase agredida. São pessoas que pregam e mentem, que dizem que os outros não toleram, mas eles também não toleram.” Paula ainda rechaçou a obra do ponto de vista que ficou exposta em um mural, à vista de crianças.
Já Francisco Marshall, historiador e professor da Ufrgs, garantiu que em nenhum momento Paula foi agredida durante o tempo em que permaneceu no local. “O instituto Goethe é uma trincheira do humanismo, desde a época da ditadura, quando acolhia filósofos e pensadores”, ponderou ele, dizendo ainda que o espaço “tem sua própria agenda de arte e dá qualidade ao que realiza.” Sobre as obras propriamente ditas, Marshall garantiu que a curadoria selecionou artistas representativamente importantes dentro da temática. Ele também explicou as obras do ponto de vista artístico, apontando que envolvem a relação entre as cidades e a violência, e a ponte simbólica entre a obra do Goethe e a alegoria de Salomé e São João Batista (a cabeça na bandeja). “O Cristianismo explora uma imagem muito trágica, que os luteranos inclusive rejeitam, que é a imagem do Cristo na cruz. Então ali há essa violência representada, mas que nos faz pensar sobre a violência.”
Também participaram do debate a artista plástica Zoravia Bettiol e o estudante de Relações Internacionais Guilherme Pöttker. Zoravia defendeu que “as religiões, cada uma delas, se dizem verdadeiras. Escorraçam quem não pensa como elas.” Também complementou afirmando que “a arte se serve de analogias, metáforas, ícones, e tem poder transformador. Ela se faz valer da filosofia de uma série de coisas para se expressar, desde a caverna até o terceiro milênio.”
Já Guilherme classificou o caso envolvendo o Instituto Goethe de “incidente diplomático”, já que o instituto é alemão e, de acordo com o entendimento dele, afrontou “a fé da maioria dos brasileiros.” O estudante focou a tese sobre o conteúdo divulgado por um dos artistas que inspiraram o autor da obra no Goethe. Segundo Guilherme, o pintor defende pensamentos como “o satanismo e a pedofilia.” Tanto ele quanto Paula garantiram que as informações podem ser facilmente encontradas no Facebook.
A exposição está em cartaz desde 23 de março e permanece no Goethe até o próximo dia 19, sob curadoria de Laymert Santos. O Goethe Institut, através de nota, afirmou na tarde de ontem que “está analisando as manifestações recebidas em decorrência da pintura do muro de sua sede” e que “nos próximos dias, o Instituto discute internamente quais as ações a serem tomadas diante da repercussão do projeto.” A instituição também garante que “acolhe e respeita todas as manifestações a favor e contra o projeto, no âmbito da civilidade.”