Assim que o caso BRF explodiu sob o nome de Operação Trapaça, vários importantes compradores de frango brasileiro solicitaram informações mais detalhadas do governo em relação à sanidade, como a reclamada pela União Europeia (UE). Agora que o bloco oficialmente barrou 20 plantas, já há sinais mais duros vindo dos países árabes, que, por sinal, estão chegando simultaneamente ao desajolamento de aves nos dois principais estados produtores, Santa Catarina e Paraná.
A Associação Catarinense de Avicultura (Acav) está monitorando a situação, tendo em vista que o estado exporta 46,2% do que produz, mas seu presidente está apreensivo porque os árabes insistem em usar a UE como espelho. “A Arábia Saudita é a que está mais reticente e isso é um problema maior ainda”, diz José Antônio Ribas.
Haveria, por assim dizer, um duplo “efeito cascata”. Ribas lembra que a Europa é formadora de opinião – mais ainda sobre o Oriente Médio – e a Arábia Saudita tem sua parte como referência junto aos demais países árabes. Além do que os sauditas são os maiores importadores de carne de aves do Brasil, com mais de US$ 1 bilhão em receitas em 2017, incluindo miúdos.
A continuidade da Operação Carne Fraca, com desculpa técnica (o argumento da salmonella animal, sem consequências para a saúde humana), também pode ser entendida como manobra para desocupar parte do mercado brasileiro não apenas na Europa, mas em quintais que no passado eram atendidos pelos produtores franceses, entre outros menores daquele continente. Mesmo que Europa não tenha capacidade para atender sua demanda sem a carne brasileira – 147,8 mil toneladas, quase US$ 365 milhões em 2017 -, pelo menos em termos de custos, ainda assim o presidente da Acav vê interesse em fazer chegar o frango europeu entre os árabes.
A logística próxima do Oriente Médio torna o frango europeu, sem o brasileiro concorrendo, mais competitivo.