O Instituto de Cultura Árabe divulgou nota, nesta quinta-feira, criticando as declarações da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) ao vincular o canal de notícias do Catar Al-Jazeera ao extremismo islâmico. Ana Amélia criticou ontem um vídeo enviado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) à emissora, pedindo apoio do mundo árabe contra a detenção do ex-presidente Lula, condenado e preso em um processo relacionado à Operação Lava Jato.
“A Al-Jazeera é um dos grupos de comunicação mais respeitados do planeta. Além de praticar um jornalismo que serve de referência, entrevista e promove reportagens com líderes, artistas, intelectuais e ativistas que se identificam com a luta em defesa dos direitos humanos, respeitando a diversidade de opiniões”, cita a nota, reproduzida pelo jornal O Estado de S.Paulo. “Relacionar uma emissora de TV do mundo árabe a grupos terroristas, além de demonstração de desconhecimento em relação aos países árabes, é prática explícita de preconceito racial e islamofobia”, segue a nota.
No comunicado, o instituto ainda lembra que o Brasil historicamente é destino de imigrantes de diversas partes do mundo, entre eles, os árabes. “A Constituição brasileira é clara quanto aos delitos de racismo e discriminação e quaisquer formas de sistemas religiosos e profissões de fé. Partindo de uma senadora da República, constitui-se em um constrangimento ainda maior para nossa a sociedade”, defende o texto. “Valorizamos o caminho da harmonia entre as comunidades e entre os povos e o respeito às diferenças. Acreditamos que a integração entre as culturas e o diálogo são essenciais, assim como o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas, brasileiras ou não”, finaliza o Instituto.
Ana Amélia afirmou que Gleisi pode ter violado a Lei de Segurança Nacional por supostamente ter provocado “atos de hostilidade” contra o Brasil . “Espero que essa convocação não seja um pedido para o Exército islâmico atuar no Brasil”, disse a senadora gaúcha.
Não há nenhum grupo terrorista de grande porte chamado “Exército Islâmico”. O Estado Islâmico ocupou entre 2014 e o começo deste ano faixas de território na Síria e no Iraque, além de organizar atentados em grandes capitais europeias, mas não há evidências de qualquer vínculo do grupo com a Al-Jazeera.
Mais cedo, a Procuradoria-Geral da República instaurou procedimento preliminar para analisar a possibilidade de abrir inquérito sobre o vídeo de Gleisi.
O Icárabe se declara uma instituição laica, dedicada à promoção da cultura árabe no Brasil.