Quem esperava um clima de tristeza, se surpreendeu no enterro da sambista e compositora Dona Ivone Lara. Em vez de choros e lamentos, o corpo da artista foi sepultado ao som dos maiores sucessos que ela compôs, cantados pelo público, entre parentes, artistas e fãs, que foram ao Cemitério de Inhaúma, nesta terça-feira, se despedir. A grande dama do samba morreu ontem, aos 97 anos.
A classe artística foi representada, entre outros, por Martinho da Vila, que conheceu e conviveu de perto com Dona Ivone. “Vai ser difícil, porque a gente teve uma convivência muito grande. Fiz muito show com ela, pelo Brasil e pelo mundo. Mas não é uma morte triste, porque não foi sofrida. Ela foi uma pessoa bem vivida, então este enterro, no duro, é uma celebração”, disse Martinho.
Fãs fizeram questão de estar próximos, nos últimos momentos, levando flores em homenagem a Dona Ivone ou trazendo nas mãos discos da cantora. “Sou fã dela desde 1984, quando eu tinha 11 anos de idade. Com o passar do tempo, comecei a comprar os discos dela e cheguei a ir em três shows. Ela tinha um samba melódico que transmitia paz”, disse o professor de história Dorival Alves.
A irmã de Dona Ivone acompanhou o sepultamento e lembrou como ela era em casa. “Ela gostava de brincar e cantar. Vou sentir falta. Vou ficar triste. De parente, era só eu e ela”, lamentou Elza da Silva Gusmão, de 93 anos de idade.
O jornalista especializado em samba Marcelo Faria, do portal Sambrasil, resumiu o que, para ele, foi a carreira da artista: “Dona Ivone, com quase um século de vida, atravessou o século do samba. O legado que ela deixa é a obra que fica. Ela era uma cronista do dia a dia, da vivência do subúrbio. Foi pioneira como compositora e um marco para todos nós”, completou.