Palocci era o "porta-voz" da propina para Delfim, sustenta procurador

O procurador Athayde Ribeiro Costa, do Ministério Público Federal, afirmou nesta sexta-feira que o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil e Fazenda/Governos Lula e Dilma) era o “porta-voz” de propinas sobre as obras da Usina de Belo Monte para o ex-ministro da Fazenda da ditadura Antonio Delfim Netto, para o PT e para o MDB. Delfim e o empresário Luiz Appolonio Neto, sobrinho dele, foram alvos de busca, hoje, na Operação Buona Fortuna, 49ª fase da Lava Jato. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Segundo o procurador, Antonio Palocci, então deputado federal, era “o porta-voz do governo federal para direcionar os pedidos de propina, parte ao PT para ao MDB”. Em um segundo momento, de acordo com ele, Palocci pediu o direcionamento a Delfim Netto de 10% sobre o
valor de 1% do contrato pago em propina, quantia que corresponde a aproximadamente R$ 15 milhões. “As investigações até o momento apuraram o recebimento de R$ 4 milhões”, relatou Ribeiro Costa.
Os pagamentos a Delfim Netto, segundo o procurador, “foram efetuados parte em espécie, parte mediante depósitos em empresas do sobrinho, Luiz Appolonio Neto, e dele próprio, em contratos fictícios”. A Buona Fortuna cumpriu dez mandados de busca e apreensão nesta sexta-feira.
“Importante lembrar que isso revela efeitos nefastos da corrupção. Além de assolar os cofres públicos, nós percebemos os problemas ambientais e socioambientais da Usina de Belo Monte. Populações ribeirinhas indígenas foram desamparadas, as condicionantes socioambientais não foram cumpridas e hoje a gente vê o dinheiro engordando os cofres e os bolsos dos políticos”, apontou.
Segundo a operação, já foram rastreados pagamentos somando R$ 4,5 milhões de um total estimado em R$ 15 milhões, pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli, todas integrantes do Consórcio Construtor de Belo Monte, no Pará, em favor de pessoas jurídicas relacionadas a Delfim Netto, por meio de contratos fictícios de consultoria.
No caso da Odebrecht os pagamentos foram registrados no sistema de controle de propinas da empresa (“Drousys”), com o codinome “Professor”. O nome da operação é uma referência a uma das empresas de consultoria de Delfim, a “Buona Fortuna”.
Defesas rebatem
Os advogados Fernando Araneo, Ricardo Tosto e Jorge Nemr dizem que Delfim “não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo”. “O professor Delfim Netto não ocupa cargo público desde 2006 e não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo. Os valores que recebeu foram honorários por consultoria prestada”, disse a defesa.
A reportagem do Estadão também contatou os advogados de Luiz Appolonio Neto. A defesa informou que só vai se manifestar quando tiver acesso aos dados da investigação.
O MDB divulgou nota afirmando que “não recebeu propina nem recursos desviados no Consórcio Norte Energia. Lamenta que uma pessoa da importância do ex-deputado Delfim Netto esteja indevidamente citado no processo”.
O PT também se manifestou. “As acusações dos procuradores da Lava Jato ao PT, na investigação sobre a usina de Belo Monte, não têm o menor fundamento. Na medida em que se aproximam as eleições, eles tentam criminalizar o partido, usando a palavra de delatores que buscam benefícios penais e financeiros”, cita a nota da assessoria de imprensa da legenda.
A reportagem também tentou contato com a defesa do ex-ministro Antônio Palocci, sem sucesso.