Em uma noite sem surpresas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas laureou a fantasia “A Forma da Água” como o melhor filme da 90º edição do Oscar. Depois da gafe no anúncio da categoria no ano passado, os atores Warren Beatty e Faye Dunaway entregaram o troféu máximo da premiação a Guillermo Del Toro, que também foi eleito o melhor diretor por seu trabalho no longa. “Algumas semanas atrás, Steven Spielberg disse se você se encontra no palco, deve se lembrar de que faz parte do nosso legado, do nosso mundo de cineastas e se orgulhe disso. Estou muito, muito orgulhoso, e quero dedicar isso a todos os novos cineastas”, falou ao receber a estatueta dourada.
Favorito do público e da crítica, o mexicano de 53 anos havia recebido minutos antes a distinção de melhor diretor, dada por Emma Stone. “Eu sou um imigrante, como muitos de vocês. Nos últimos 25 anos eu tenho vivido em um país de todos nós. Muros só vão piorar as coisas. A melhor coisa que nossa indústria faz é ajudar a apagar as linhas na areia quando o mundo tenta torná-las mais profundas. Nós também deveríamos fazer isso”, declarou em seu discurso.
Numa das disputas mais aguardadas, Frances McDormand levou a melhor sobre Sally Hawkins na categoria de melhor atriz. A protagonista de “Três Anúncios Para Um Crime” subiu ao palco brincando que “estava um pouco nervosa”, e pediu que se caísse, que a levantassem, “porque eu tenho umas coisinhas para falar”, fazendo referência ao seu discurso no Globo de Ouro, no qual tropeçou por estar bêbada. Ela pediu que todas as mulheres indicadas se levantassem, recebendo fortes aplausos. “Olham para a sua volta, todas nós temos histórias para contar, não falem conosco na festa, mas nos chamem para o escritório porque temos muitas coisas para falar. Vamos ser roteiristas de inclusão”. No equivalente masculino, Gary Oldman, que viveu Winston Churchill em “O Destino de uma Nação”, venceu.
A cerimônia
A noite começou com uma homenagem aos 90 anos do prêmio mais importante do cinema: uma vinheta em estilo retrô, com letreiros iguais à da primeira edição da cerimônia, introduziu um clipe em preto e branco com imagens dos indicados em 2018 chegando ao Dolby Theater. O locutor então apresentou o anfitrião Jimmy Kimmel, que subiu ao palco já disparando piadas. “Quando ouvirem seu nome ser chamado não levantem de primeira”, disse, em referência ao erro no anúncio de melhor filme no ano passado. Em tom descontraído, o comediante também falou sobre os casos de assédio e abuso que atingiram Hollywood nos últimos meses, citando nominalmente Harvey Weinstein.
O primeiro laureado foi Sam Rockwell, por seu trabalho em “Três Anúncios Para Um Crime”. Ele recebeu o troféu de melhor ator coadjuvante das mãos de Viola Davis, vencedora da categoria homônima feminina no ano passado. Em seu discurso de apresentação, ele elogiou os colegas com os quais concorria, explicando que aprendeu muito com eles. A primeira vitória para “A Forma da Água” recebeu veio na categoria de melhor direção de arte.
Em uma das atrações da cerimônia, Gael García Bernal, Miguel e Natalia Lafourcade cantaram “Remember Me”, tema de “Viva: A Vida É Uma Festa”. A música venceu o Oscar de melhor canção original. O filme também foi eleito pela Academia a melhor animação, desbancando “Touro Ferdinando” do brasileiro Carlos Saldanha. “Com ‘Viva’, tentamos dar um passo em frente em direção a um mundo onde todas as crianças podem crescer vendo personagens em filmes que parecem e falam e vivem como eles fazem. As pessoas marginalizadas merecem se sentir como se pertencessem a algum lugar. Representação importa”, afirmou o diretor do longa. “Viva o México”, gritou Anthony Gonzalez, o ator de 13 anos que dá voz ao personagem Miguel.
Rita Moreno usou o mesmo vestido de quando recebeu o Oscar por “Amor, Sublime Amor” e foi a responsável por entregar o prêmio de melhor filme estrangeiro ao chileno “Uma Mulher Fantástica”. Confirmando seu favoritismo, Allison Janney foi eleita a melhor atriz coadjuvante por seu papel em “Eu, Tonya”. “Eu fiz tudo sozinha”, brincou, mas depois dedicou a conquista à família que sempre lhe apoiou e até mesmo ao pássaro que foi usado no filme como seu companheiro. Já Kobe Bryant subiu ao palco ao lado de Glen Keane para receber o prêmio de melhor curta de animação por “Dear Basketball”, inspirado numa carta do atleta na qual ele explica a importância do esporte em sua vida.
O anfitrião da noite ainda comandou um dos momentos mais descontraídos da cerimônia: Kimmel escolheu na plateia algumas celebridades para irem até uma sala de cinema próxima ao Dolby Theater e surpreender os espectadores. Eles interromperam a sessão para distribuir sanduíches e cachorros-quente como forma de agradecimento aos “fãs” que tornam possível que o cinema continue a existir.
O momento dedicado ao movimento “Time’s Up” foi apresentado por Salma Hayek, Annabella Sciorra e Ashley Judd, três mulheres que denunciaram o ex-produtor Harvey Weinstein. “Este ano muitos falaram sua verdade, e a jornada à frente é longa, mas lentamente surgiu um novo caminho. Nossas vozes se unem pela igualdade”, disseram as atrizes. Após a fala, foi exibido um vídeo sobre o momento atual na indústria, com participação de personalidades como Mira Sorvino, Ava Duvarney, Yance Ford e Kumaikil Nanjiani.
James Ivory, aos 89 anos, se tornou a pessoa mais velha a ganhar um Oscar ao conquistar o prêmio de melhor roteiro adaptado por “Me Chame Pelo Seu Nome”, baseado no romance de mesmo nome de André Aciman. “Quero agradecer ao autor que escreveu uma história que é familiar a todos nós. Todos passamos pelo primeiro amor” comentou. Jordan Peele venceu a categoria de melhor roteiro original pelo terror “Corra!”. “Parei de escrever cerca de 20 vezes porque achei que era impossível. Mas eu continuava voltando porque sabia que se eu conseguisse, as pessoas a veriam. Então eu quero dedicar isso a todos que me deixam levantar a voz”, celebrou o roteirista, que também dirige o filme.
Confira os vencedores:
Melhor filme: “A Forma da Água”
Melhor diretor: Guillermo del Toro (“A Forma da Água”)
Melhor ator: Gary Oldman (“O Destino de Uma Nação”)
Melhor atriz: Frances McDormand (“Três Anúncios para um Crime”)
Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell (“Três Anúncios para um Crime”)
Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney (“Eu, Tonya”)
Melhor filme estrangeiro: “Uma Mulher Fantástica” (Chile)
Melhor roteiro original: “Corra!”
Melhor roteiro adaptado: “Me Chame Pelo Seu Nome”
Melhor documentário em curta-metragem: “Heaven is a Traffic Jam on the 405”
Melhor curta-metragem: “The Silent Child”
Melhor curta-metragem de animação: “Dear Basketball”
Melhor animação: “Viva – A Vida é uma Festa”
Melhor montagem: “Dunkirk”
Melhor canção original: “Remember Me” (“Viva – A Vida é uma Festa”)
Melhor trilha sonora: Alexandre Desplat (“A Forma da Água”)
Melhor fotografia: “Blade Runner 2049”
Melhor maquiagem e penteado: “O Destino de Uma Nação”
Melhor documentário: “Ícaro”
Melhor figurino: “Trama Fantasma”
Melhor edição de som: “Dunkirk”
Melhor mixagem de som: “Dunkirk”
Melhores efeitos visuais: “Blade Runner 2049”