A merenda escolar é a refeição principal de muitos estudantes do nosso país, principalmente nas instituições das periferias. E não são raros os casos em que as escolas não têm cozinha e refeitório. Um exemplo é o do Colégio Estadual Dom João Becker, na Vila do IAPI, na zona Norte de Porto Alegre. A instituição tem cerca de 500 alunos e fornece merenda industrializada. Na ausência de local adequado, a escola adaptou uma sala de aula que serve de refeitório.
Segundo a diretora da instituição, professora Nara Regina Gomes, existe um processo na Secretaria da Educação há mais de dois anos para a construção do refeitório, mas, devido a um erro no projeto inicial, até o momento, o colégio não foi contemplado. Dessa forma, a escola deixa de ofertar aos estudantes uma refeição balanceada e saudável, como deveria ser.
“Nós fomos orientados pela Secretaria de Educação a dar uma merenda alternativa. Nós compramos uma merenda pronta e entrega aos alunos. É suco, achocolatado, barra de cereal e algumas coisas da agricultura familiar, como frutas e bolos. Nós não cozinhamos. É isso que acontece”, relata a diretora.
A escola completou 70 anos de existência em 2017 e nunca recebeu uma cozinha. De acordo com a diretora, a maioria dos alunos do Dom João Becker vem da região da zona Norte da Capital e a faixa econômica deles é de renda média-baixa, por isso, a importância de uma alimentação saudável. “A merenda é importante porque o nosso estudante fica um bom período dentro da escola. Eles ficam o turno inteiro e é necessário esse lanche no meio. É um longo período, pois a gente sabe que o adolescente está toda hora comendo e passar um turno inteiro com um lanche, no nosso caso, industrializado é pouco”, explica.
Segundo a professora do curso de Nutrição da PUC-RS, Carla Piovesan, o guia alimentar para a população brasileira diz que os alimentos ultra-processados, como são os industrializados, devem ser evitados, já que não é esse tipo de comida que crianças e adolescentes precisam. “Imagina uma criança que acorda cedo, não tem uma refeição em casa e vai para a escola e, ao invés de receber leite, frutas, arroz e feijão recebe uma bolacha ou uma barra de cereal. Dessa forma, a gente não vai estar suprindo as necessidades nutricionais para o desenvolvimento dessa criança ou adolescente. Dependendo da idade, como os adolescentes, a gente sabe que é o momento de crescimento, que é quando o ser humano mais precisa de nutrientes”, explica.
A Secretaria Estadual de Educação informou que o projeto para construção da cozinha e do refeitório, bem como o processo de reforma do telhado, da rede hidráulica e da substituição de duas caixas d’água do Colégio Estadual Dom João Becker encontra-se em análise na 1ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (CROP). A obra, de caráter emergencial, está em fase de elaboração de projeto e ainda não há data para o início dos trabalhos.