Novo ano letivo, mas velhos problemas nas escolas públicas da rede estadual do Rio Grande do Sul. Prédios antigos e falta de manutenção são as principais reclamações de alunos e professores. Mas como trocar as telhas velhas e reformar os sistemas elétrico e hidráulicos deficitários se há falta de dinheiro? Esse é o desafio das direções e coordenações das instituições de ensino.
Um exemplo é o da Escola Estadual Professor Gentil Viegas Cardoso, localizada no Jardim Algarve, em Alvorada, na Região Metropolitana. Com quase 2.300 estudantes, a instituição é uma das maiores do Estado quando se leva em conta o número de alunos atendidos. O colégio recebe uma verba mensal de, aproximadamente, R$ 14 mil para arcar com todos os custos de manutenção. O valor equivale a um pouco mais da metade do que recebe mensalmente um deputado estadual gaúcho, que tem salário de mais de R$ 25 mil e precisa estar na Assembleia Legislativa apenas três dias na semana.
O prédio da escola de Alvorada tem 32 anos. O lugar, que tem uma fachada bem cuidada pela comunidade, esconde problemas comuns na maioria das instituições de ensino gaúchas, como infiltração, rede elétrica defasada, vidros quebrados e mato que cresce no terreno. Em janeiro deste ano, criminosos invadiram um dos prédios e roubaram fios da rede elétrica de algumas salas de aula, mas, por enquanto, não há verbas para repor o que foi roubado.
O colégio vem recebendo o mesmo valor de recursos nos últimos quatro anos. No entanto, de 2014 a 2017, a inflação acumulada supera os 26%. De acordo com a coordenadora financeira da escola, Elaine Fonte, os preços subiram muito e hoje não há como comprar as mesmas coisas que se comprava quatro anos atrás. As reformas são necessárias, mas o dinheiro recebido não atende as necessidades e são feitas reformas paliativas.
“Nós temos um problema muito sério com o muro de contenção lá atrás da escola, que dá infiltração nos banheiros. É uma obra grande e a gente não tem condições de fazer ainda. Nós, também, precisaríamos fazer a reforma de todo o telhado, pois na necessidade nós trocamos uma aqui, mas a outra já está furada porque elas são bem antigas”, relata a coordenadora.
Como os recursos do Estado não são suficientes para a manutenção, alguns pais e mães resolveram arregaçar as mangas e ajudar os funcionários da instituição a preparar o prédio para receber os alunos. Na semana anterior ao reinício das atividades, um pai capinava o entorno da escola, o outro consertava as mesas e cadeiras e outras mães limpavam e pintavam as paredes e as estruturas. Entre elas, estava Giovana da Silva, de 32 anos, mãe de quatro filhos que estudam no local. No ano passado, ela também voltou a frequentar a sala de aula para fazer o curso Técnico em Administração. Giovana conta que sempre viveu na comunidade e sabe da importância de ajudar. “Eu estou pintando agora. Daqui a pouco, um grupo de mães também vai chegar. Então, aqui a comunidade é bem unida. Eu me criei aqui e meus filhos estão usufruindo da escola”, diz.
A Secretaria da Educação sabe dos problemas das escolas públicas do Rio Grande do Sul. Segundo dados da Pasta, o Estado agrega 2.545 escolas e 90% das instituições apresentam problemas na rede elétrica. Para resolver essa demanda, a Secretaria fez uma parceria com sete universidades e um instituto federal para que estudantes de engenharia desenvolvam projetos para suprir esses problemas. Segundo o secretário de Educação Ronald Krummenauer, de 2016 até o final deste ano, cerca de mil escolas da rede passarão por alguma reforma, mas os efeitos climáticos também prejudicam o calendário.
“As necessidades são permanentes. Nos temporais que aconteceram nos meses de outubro e novembro de 2017, 165 escolas foram afetadas. Então, além das obras que estão programadas, ainda há as surpresas que não estão programadas por nós. Essas questões todas são relevantes e cada vez mais a participação da comunidade e o desenvolvimento de parcerias podem acelerar esse processo de melhoria das condições das escolas públicas”, afirma Krummenauer
No início deste mês, a Secretaria de Educação assinou o início de obras em 80 escolas públicas estaduais gaúchas. A maior parte das obras é emergencial para reparar danos causados, principalmente, por temporais que aconteceram no segundo semestre de 2017.