O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (EACDH) qualificou nesta sexta-feira (12) de “racistas” os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre El Salvador, Haiti e vários países africanos, que, segundo ele, são “países de merda”.
“Esses comentários do presidente dos Estados Unidos são surpreendentes e vergonhosos. Lamento, mas não podem ser definidos de outra maneira que como racistas. Não se pode tachar um país inteiro ou um continente como ‘de merda’ e dizer que populações inteiras, que não são brancas, não serão bem-vindas”, disse o porta-voz do EACDH, Rupert Colville, em coletiva de imprensa.
Na quinta-feira (11), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a chegada de imigrantes de algumas nações e usou termos pejorativos e preconceituosos para falar delas. Segundo a imprensa americana, Trump disse “Por que estamos tendo todas essas pessoas de países de merda vindo aqui?”.
O governante então sugeriu que os Estados Unidos deveriam trazer mais pessoas de países como a Noruega, com cuja primeira-ministra ele se reuniu na quarta-feira (10), de acordo com o The Washington Post.
“O comentário positivo sobre a Noruega enfatiza o sentimento (racista) muito claramente”, ressaltou o porta-voz.
Segundo Colville, os novos comentários de Trump não são isolados e fazem parte de um posicionamento claramente xenófobo do presidente.
“Como os comentários anteriores sobre mexicanos e muçulmanos, as propostas políticas contra grupos inteiros com base em nacionalidade, religião, e na sua rejeição em condenar claramente as ações antissemitas e racistas dos supremacistas brancos em Charlottesville, tudo isto vai contra os valores universais que o mundo tanto lutou para estabelecer desde a Segunda Guerra Mundial”, argumentou.
Para o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, as falas de Trump não são apenas de mau gosto e falta de respeito, mas abrem “a porta à pior parte da humanidade”.
“É aceitar e apoiar o racismo e a xenofobia que potencialmente destruirão a vida de muitas pessoas. Esta é a consequência mais perigosa deste tipo de linguagem quando usada por uma figura política importante”, disse.
Ele aproveitou para lembrar que o maior responsável dos direitos humanos da ONU, Zeid ibn Ra’ad, pediu ao Congresso americano que ofereça uma solução legal e duradoura aos dreamers (sonhadores), os imigrantes que chegaram aos Estados Unidos irregularmente quando eram crianças e que não têm documentação regularizada.
“O futuro dos dreamers não deveria ser usado como moeda de troca para negociar uma severa e restritiva lei migratória e de segurança. São pessoas, não mercadorias”, enfatizou Colville.
Segundo a imprensa, Trump fez os comentários quando dois senadores delinearam um projeto de lei migratória que daria vistos a alguns cidadãos de países que foram retirados recentemente do programa de Status de Proteção Temporária (TPS), como El Salvador, Haiti, Nicarágua e Sudão. Sobre isso, Colville disse que o Escritório do Alto Comissionado está muito preocupado com a questão. De acordo com o porta-voz, essa decisão afetará 180 mil salvadorenhos, 59 mil haitianos e 5.300 nicaraguenses, entre outros.