Último paciente deixa o Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre

Desde o processo de desinstitucionalização de pacientes do hospital, que foi concluída em 2023, não havia mais outros moradores no local; hospital também inaugurou jardim sensorial nesta quinta

Foto: Mauro Schaefer / CP Memória

Nesta quarta-feira, o último paciente residente do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, deixou as dependências da instituição. O morador, que era antigo, foi encaminhado a um Serviço de Residência Terapêutica (SRT), que atua como alternativa de moradia para os pacientes que não contam com suporte e vínculo familiar após sua liberação. Lá, ele conta com cuidados técnicos com a equipe de enfermagem. A desinstitucionalização no hospital foi concluída em 2023, quando não havia mais pessoas residindo no local.

Segundo a dra. Leticia Ikeda, diretora do departamento dos Hospitais Próprios do Estado, o São Pedro segue atuando como serviço especializado por distúrbios relacionados aos transtornos mentais. As internações hospitalares de pacientes com transtornos poderão durar até 21 dias. Enquanto os pacientes que contam com apoio familiar podem retornar às suas residências, outros que não possuem suporte são encaminhados às residências terapêuticas. Ikeda destaca que cada paciente tem um destino e tratamento específico, considerando que o processo de institucionalização é individualizado e depende do nível e da gravidade dos transtornos, além do período de adaptação à realidade.

Desde a implantação da Reforma Psiquiátrica Nacional, ou Lei Antimanicomial, nº 10.216, de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, não deveria haver mais pacientes internados no São Pedro. Foi quando começou o processo de desinstitucionalização dos antigos moradores, que foram progressivamente deixando o hospital e passando a viver nas residências terapêuticas.

Jardim Sensorial é inaugurado no Hospital

A inauguração de um Jardim Sensorial marcou nesta quinta-feira a ampliação das atividades do Jardim Terapêutico do Hospital Psiquiátrico, que já existe desde 2021. O jardim foi construído em parceria com o Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa/POA) e o Jardim Botânico de Porto Alegre, e foi pensado para ser um ambiente de acolhimento em meio à natureza. A iniciativa busca integrar ações artísticas em prol da saúde mental, e teve início com o cultivo de plantas que servem como estímulos sensoriais, visando acessar memórias e ressignificar traumas.

“A ideia é que, ao longo deste deste caminho se se coloca em plantas com aroma, então, para para estimular o os sentidos. Estamos na construção desse caminho, onde já algumas aromáticas foram dispostas, pelo menos uma meia dúzia de espécies, e vamos enriquecer ainda mais”, destaca Leandro Dal-Ri, engenheiro florestal do Jardim Botânico e que esteve na implementação do Jardim Terapêutico, seguindo com os projetos para a parte sensorial.

Simone Meyer, terapeuta ocupacional e presidente da comissão de humanização e qualidade do Hospital, destaca a importância do jardim para estimular os sentidos, trazer calma e potencializar os demais serviços integrados no espaço. “É para que as pessoas, só pelo fato de circularem por aqui, escolherem um ponto de visualização, observarem as folhas, as flores, os pássaros. Que isso só já equilibra o estado fisiológico das pessoas. E a gente vive em um mundo cheio de stress, e numa velocidade muito grande, então a ideia é realmente poder parar”, diz.

O jardim também é espaço para pessoas que são atendidas pelo Certa. “A gente criou uma abertura, as pessoas que são atendidas no Certa frequentam o jardim, as pessoas do hospital frequentam o Certa, então a gente passou a conjugar esse espaço. A importância de a gente poder olhar para essas crianças neuro divergentes, é na perspectiva da inclusão”, acrescenta.