Inverno mais quente deve reduzir vendas no varejo em R$ 50 milhões, diz CNC

Alta da temperatura, inflação e crédito restrito formam combinação desfavorável ao setor

Crédito: Divulgação/FCDL-RS

Com previsão de temperaturas mais altas do que o habitual para a estação mais fria do ano, as vendas no setor de vestuário, calçados e acessórios devem ter retração de R$ 50 milhões em relação ao inverno passado. A estimativa é da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e leva em conta os até 2°C previstos acima da média histórica no Brasil para a época, o que reduz a procura pelos itens típicos do clima mais gelado.

A expectativa de um inverno menos rigoroso, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, é atribuída ao fenômeno El Niño e ao aquecimento global. Tal mudança no padrão climático tem alterado o comportamento dos consumidores, diminuindo a demanda por roupas quentes e o desempenho do varejo no período entre maio e agosto.

De acordo com o estudo da CNC, a movimentação financeira total prevista para o segmento de vestuário no inverno de 2025 é de R$ 90,3 bilhões. Deste montante, R$ 9,09 bilhões devem ter relação direta com a queda dos termômetros, contra os R$ 9,14 bilhões do mesmo período em 2024. Confirmadas as projeções, isso representaria uma redução de R$ 50 milhões.

“O setor enfrenta um cenário desafiador, marcado por um inverno atípico e por condições econômicas que ainda impõem cautela ao consumo das famílias. A atual perspectiva exige do varejo maior capacidade de adaptação e planejamento diante de um consumidor mais seletivo e de um ambiente de negócios ainda marcado pelas incertezas”, afirma o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

PREÇOS ALTOS

O cenário é agravado pela conjuntura econômica. Ainda que a inflação do ramo de vestuário deva fechar o ano abaixo da média geral (+4,0% contra +5,5%), os preços avançaram em relação ao período equivalente, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fatores que também pesam são o encarecimento do crédito e o alto comprometimento da renda das famílias brasileiras. A taxa média de juros nas operações de crédito com recursos livres permanece alta e sem previsão de redução. Já o índice de endividamento das famílias segue acima dos 50% da renda, o que compromete o consumo.

O Brasil tem passado por invernos progressivamente mais quentes ao longo dos últimos anos. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a temperatura média registrada durante os meses de inverno tem se mantido em torno de 21,5°C desde 2014, com pequenas variações. A previsão de 2025, portanto, segue a tendência da última década.

“O setor varejista precisa se adaptar a uma realidade em que o frio já não é mais tão previsível ou intenso quanto antes, o que pode demandar mudanças nas estratégias de estoque, marketing e calendário promocional”, analisa o economista da CNC Fabio Bentes.