Bolsonaro defende histórico de críticas às urnas e diz que luta pelo voto impresso desde 2012

Sessão retoma com interrogatório do ex-presidente, que chegou no local com uma Constituição em mãos

Bolsonaro é interrogado por Moraes - Foto: Antonio Augusto / STF / Divulgação

O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou na tarde desta terça-feira (10) o interrogatório dos oito acusados de tentativa de golpe de Estado em 2022, entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou à sessão com exemplar da Constituição nas mãos.

Durante o interrogatório, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou justificar declarações sobre as urnas eletrônicas como parte de um histórico de críticas “dentro da legalidade” e não como um plano de ruptura institucional. Ele negou ter acusado diretamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fraudes e afirmou que a atuação sempre foi política, baseada na defesa do voto impresso.

“Concretamente, o fundamento era a suspeição. Críticas jurídicas e desconfianças, que sempre foram feitas dentro da normalidade democrática. Eu fiquei dois anos como governante e 28 como parlamentar. A minha retórica sempre foi a de falar depois, apontar problemas.”

Segundo Bolsonaro, as dúvidas sobre as eleições não eram infundadas, mas sim alimentadas por manifestações legítimas. Ele mencionou nominalmente ministros do TSE que, segundo ele, eram alvo de críticas públicas — como Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes — mas negou que tenha feito qualquer acusação formal de direcionamento ou fraude.

“As críticas eram públicas. Mas nunca falei em fraude de forma leviana. Sempre defendi que o sistema deveria ter mais transparência.”

Dinâmica
O primeiro interrogado do dia foi o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, seguido do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do general da reserva Augusto Heleno.

General Heleno
O advogado do militar, Matheus Milanez, afirmou que o cliente só responderia aos questionamentos feitos pela defesa. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, aceitou a colocação, mas mesmo assim fez as perguntas.

Para a defesa, Augusto Heleno negou qualquer tipo de participação na tentativa de golpe. Disse que não tinha o que as investigações chamaram de “caderneta do golpe” e nem influenciou politicamente seus funcionários do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

“Não havia clima para fazer pregação política e nem utilizar os servidores do GSI para atitudes politizadas”, disse. Apesar de se dizer a favor do voto impresso, Heleno assegurou que não contribuiu para divulgar desinformação sobre fraude em urnas eletrônicas. “Não, não tinha nem tempo para fazer isso.”

Anderson Torres
Moraes questionou Torres sobre as declarações dele sobre fraude no sistema de urnas eletrônicas. Também sobre falas agressivas que poderiam suscitar dúvidas sobre a passagem de poder para Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito.

Torres afirmou que o material que chegou a ele era somente sobre melhoria das urnas.

“Tecnicamente, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Quando era questionado pelo presidente, sempre falava que não tinha nada sobre o assunto”, confirmou.

Moraes também questionou sobre uma fala de Torres em reunião com Bolsonaro e outros ministros, dizendo que “todos iam se foder”.

“Peço desculpas pelas palavras, era uma reunião fechada. Acabei me excedendo, não estava bem. O que eu quis dizer é que se perdêssemos as eleições, tudo seria perdido”, explicou Torres.

O ex-ministro também lembrou que estava em um parque de diversões na Flórida quando recebeu a notícia da invasão na Praça dos Três Poderes. “Mandei mensagem para o meu secretário e falei: ‘Não deixa chegar no Supremo’. Fiquei desesperado e liguei para todo mundo. A grande verdade é que o protocolo que deixei teve uma falha grave”.

E afirmou que a minuta do golpe encontrado na casa dele não era para ser discutido, que não sabe quem fez. “Eu levava documentos para casa, eu nem me lembrava desse documento. Foi uma surpresa quando a Polícia Federal pegou. Foi parar na minha casa, mas eu nunca discuti isso”, garantiu.