Lula diz que Brasil ratificará Tratado do Alto Mar ainda este ano

Acordo internacional prevê uso sustentável de mares internacionais

Lula participou da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, em Nice, na França. - Foto Ricardo Stuckert (PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira (9), que o Brasil deve ratificar ainda este ano o acordo sobre conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em áreas além da jurisdição nacional (BBNJ), também conhecido como Tratado do Alto Mar. A afirmação foi feita na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, em Nice, na França.

O Brasil assinou o tratado em setembro de 2023, junto com mais 115 países, mas ainda precisa ratificá-lo. Para que o tratado entre em vigor, é preciso que pelo menos 60 nações o ratifiquem, mas, de acordo com a organização internacional High Seas Alliance, apenas 32 já o fizeram.

“A ADOÇÃO, HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS, DA CONVENÇÃO DA ONU SOBRE O DIREITO DO MAR, CONSAGROU, PELA PRIMEIRA VEZ, O CONCEITO DE ‘PATRIMÔNIO COMUM DA HUMANIDADE’.

“A criação desse regime internacional para governar o espaço marítimo representou uma das maiores conquistas da história da diplomacia”, disse Lula.

“O BRASIL ESTÁ COMPROMETIDO A RATIFICAR O TRATADO DO ALTO MAR AINDA ESTE ANO, PARA ASSEGURAR A GESTÃO TRANSPARENTE E COMPARTILHADA DA BIODIVERSIDADE ALÉM DAS FRONTEIRAS NACIONAIS”.

Garantir a ratificação dos 60 países até o fim do ano é um dos principais objetivos da Conferência dos Oceanos, segundo o enviado da presidência francesa para o evento, Olivier Poivre D’Arvor.

“É IMPOSSÍVEL FALAR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SEM INCLUIR O OCEANO. SEM PROTEGÊ-LO, NÃO HÁ COMO COMBATER A MUDANÇA DO CLIMA. TRÊS BILHÕES DE PESSOAS DEPENDEM DIRETAMENTE DE RECURSOS MARINHOS PARA SUA SOBREVIVÊNCIA. O OCEANO É O MAIOR REGULADOR CLIMÁTICO DO PLANETA, EM FUNÇÃO DE TODA A CADEIA DE VIDA QUE ELE ABRIGA”, DISSE O PRESIDENTE BRASILEIRO.

Em seu discurso, Lula ressaltou que paira sobre o oceano a ameaça do unilateralismo.

“NÃO PODEMOS PERMITIR QUE OCORRA COM O MAR O QUE ACONTECEU NO COMÉRCIO INTERNACIONAL, CUJAS REGRAS FORAM ERODIDAS A PONTO DE DEIXAR A OMC [ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO] INOPERANTE.

Evitar que os oceanos se tornem palco de disputas geopolíticas é uma tarefa urgente para a construção da paz. Canais, golfos e estreitos devem nos aproximar e não ser motivo de discórdia”, disse.

COP-30

O presidente brasileiro explicou que o Brasil dará ênfase à conservação e ao uso sustentável do oceano na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que será realizada em novembro, em Belém.

“NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS, O MUNDO PRODUZIU MAIS PLÁSTICOS DO QUE NO SÉCULO ANTERIOR.

Seus resíduos representam 80% de toda a poluição marinha. Salvar esse bioma requer empenho renovado na implementação do ODS 14 e do Acordo de Paris. “O Brasil dará ênfase à conservação e ao uso sustentável do oceano na COP-30, assim como fizemos em nossa Contribuição Nacionalmente Determinada”, acrescentou.

Lula afirmou ainda que o uso sustentável dos oceanos também será tema de outros eventos como a Cúpula Brasil-Caribe, a ser realizada sexta-feira (13), e a 9ª Reunião da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, que o Brasil sediará em 2026.

No discurso, o presidente enfatizou que o Brasil apresentará, em Nice, sete compromissos voluntários, relacionados à proteção de áreas marinhas, ao planejamento espacial marítimo, à pesca sustentável, à ciência e à educação.

“ALÉM DE ZERAR O DESMATAMENTO ATÉ 2030, VAMOS AMPLIAR DE 26% PARA 30% A COBERTURA DE NOSSAS ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS, CUMPRINDO A META DO MARCO GLOBAL PARA A BIODIVERSIDADE. TAMBÉM IMPLEMENTAREMOS PROGRAMAS DEDICADOS À PRESERVAÇÃO DOS MANGUEZAIS E DOS RECIFES DE CORAIS E ESTAMOS FORMULANDO UMA ESTRATÉGIA NACIONAL CONTRA A POLUIÇÃO POR PLÁSTICOS NO OCEANO”, DISSE.

O presidente citou ainda o esforço de realizar o planejamento espacial marinho, estimular a pesca sustentável, o fortalecimento da coleta de dados científicos por meio de um Sistema Integrado de Monitoramento, investimentos em pesquisa por meio da Estação Comandante Ferraz na Antártida e a inclusão da cultura oceânica nos programas escolares.

“EM 2025, TEREMOS O MAIOR NÚMERO DE ESCOLAS AZUIS NO MUNDO, REUNINDO 515 ESTABELECIMENTOS DE ENSINO, 160 MIL ESTUDANTES E 2.600 PROFESSORES”.

“Há dez anos, Paris se tornou um marco para a governança climática. Hoje, Nice passa a integrar o caminho até Belém. Com a ONU, o Brasil vai lançar um ‘Balanço Ético Global’, para mobilizar pensadores, artistas, intelectuais e religiosos, juventudes, mulheres, povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes rumo à COP30. Precisamos formar uma grande onda para construir um futuro mais justo e sustentável”.

Lula destacou que é necessário que os líderes globais entendam que “a questão climática não é invenção de cientistas nem é brincadeira de gente da ONU” e que é preciso investir no ensino da questão climática nas escolas de ensino fundamental.

“A QUESTÃO CLIMÁTICA É UMA NECESSIDADE VITAL DE PRESERVAÇÃO DO NOSSO AMBIENTE E QUE A GENTE VAI TER DE TOMAR UMA DECISÃO. PRIMEIRO, SE ACREDITA OU NÃO. SE ACREDITA, NÓS VAMOS TER DE DECIDIR QUE NÃO EXISTE OUTRO ESPAÇO PARA A GENTE VIVER, É NO PLANETA TERRA. SEGUNDO: QUE A QUESTÃO CLIMÁTICA PODE DIZIMAR A HUMANIDADE”.