Os EUA são o principal foco dos investidores na semana. Como toda primeira semana de cada mês, em praticamente todos os dias terá um dado relevante sobre a saúde do mercado de trabalho em maio da maior economia do mundo. Vale lembrar que nos EUA, diferentemente do Brasil, o mercado de trabalho é um dos mandatos do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para a condução da política monetária.
Para calibrar a comunicação e a dosagem da taxa de juros, o Fed tem um sistema de monitoramento de indicadores e ambientes econômicos com a coleta de dados a partir de suas 12 unidades regionais. “Essas informações são condensadas no Livro Bege, um documento que reúne uma síntese das condições econômicas vigentes da região sob a supervisão de cada Fed regional. O Livro Bege geralmente não gera precificação”, comenta Leandro Manzoni, economista da plataforma Investing.com.
A diferença da próxima edição, que será divulgada na próxima quarta-feira, 4, é que será o primeiro que vai avaliar como se comportou a economia de Main Street, como é chamada a economia real nos EUA em contraposição à Wall Street, após o anúncio de tarifas recíprocas de 10% para todas as economias do mundo, sendo que contra os chineses chegou a 145%. A última edição publicada em abril já apresentava algumas percepções de incerteza provocadas pela política comercial de Donald Trump sobre o ambiente de negócios, ainda antes do anúncio generalizado das tarifas no “Dia da Libertação” em 2 de abril.
A edição da próxima quarta-feira, 4, já terá informações como se comportaram as empresas e os efeitos das tarifas de Trump sobre preços, atividade e mercado de trabalho. Aliado com os discursos dos membros do Fed, inclusive do chair Jerome Powell, o Livro Bege poderá pavimentar a condução da política monetária para a próxima reunião do Fed, que será realizada em 18 de junho.
Neste encontro, os dirigentes do banco central americano também vão divulgar suas projeções econômicas para este e os próximos anos. Como pano de fundo, o mercado vai ficar atento ao retorno do acirramento da guerra comercial entre EUA e China, com Trump retomando o discurso agressivo contra os chineses. O presidente dos EUA afirmou na última sexta-feira (30) que Pequim violou, sem apresentar detalhes, o acordo de trégua celebrado há 3 semanas com os chineses na Suíça. “Resta saber quais sanções, além da restrição de exportação de tecnologia, serão aplicadas a Pequim. Para agravar a situação, Trump está irritado após os seus recuos sobre as tarifas terem sido usados para batizar um tipo de investimento na bolsa de valores”, diz Manzoni. Denominado TACO (Trump always chickens out), os investidores compram ações em queda quando Trump impõe alguma tarifa. Quando o presidente recua, as ações voltam a subir e o lucro fica garantido para quem comprou na baixa.
MERCADO INTERNO
No Brasil, o cenário não é diferente. O ambiente político ganha mais destaque na hora da precificação dos ativos, em meio à polêmica da alta do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), as dificuldades de governabilidade do Palácio do Planalto com o Congresso e a queda da popularidade do presidente. Esse combo resulta na possibilidade de derrubada do decreto do aumento do IOF, que pode levar a uma interpretação de congelamento da pauta econômica do governo Lula no Congresso.
“Como resposta, o Palácio do Planalto pode aumentar a possibilidade de anúncio de medidas populistas para gerar pautas positivas e pavimentar o caminho para a reeleição. O resultado pode ser a amplificação do sentimento de aversão ao risco vindo do exterior com um tempero local. Em relação a indicadores econômicos, a agenda é fraca no Brasil”, diz Manzoni.
Os destaques são a produção industrial de abril, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga na terça-feira, 3, e a balança comercial de maio na quinta-feira, 5. Nas outras economias, a Zona do Euro divulga a prévia da inflação ao consumidor de maio e o PIB do primeiro trimestre. Na quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) deve realizar mais uma redução de 0,25 ponto percentual da taxa de juros, de 2,25% para 2%, de acordo com projeções dos economistas.