
O mato cresce alto junto ao canal de água, com dois metros de profundidade, dentro da propriedade rural de Edson Saccon, morador da localidade do Passo Raso, em Triunfo, na região metropolitana, às margens do rio Jacuí. Atualmente, transitar por esta área, próxima à produção de arroz da família do agricultor, é um risco, pela possível presença de cobras e animais peçonhentos.
Poderia não chamar tanto a atenção este bucólico cenário natural, não fosse um gigante de ferro preso no local há um ano, desde as enchentes de 2024, e cuja retirada é alvo de uma batalha judicial sobre a responsabilidade de sua remoção. Trazida pelas águas do rio a partir de um estaleiro próximo, a balsa Hernave II, com 77 metros de comprimento, está em visível estado de abandono, prejudicando, desde então, a retirada de água do Jacuí para irrigação da lavoura.
Os prejuízos, que já haviam sido na casa dos milhões de reais devido às cheias e da presença do navio, prometem se repetir no atual ciclo de plantio. O processo segue em aberto, e no movimento mais recente, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) pediu, na última semana de abril, o cumprimento do despacho que demanda, em até 15 dias, a remoção do navio pela empresa Hernave Marítima Ltda., proprietária da embarcação e réu na ação. O prazo foi descumprido.
A reportagem contatou a Hernave para questionar sobre a presença da balsa, mas não houve retorno. Antes, já houve uma notificação extrajudicial para evitar a judicialização do processo. Além da ação civil, com pedido de reparação de danos contra o proprietário e do estaleiro, há também uma notícia-crime na Polícia Civil contra o dono do navio, para apurar possíveis responsabilizações criminais, pela justificativa de crime ambiental. A investigação, que continua em andamento, está a cargo da Delegacia do Meio Ambiente (Dema) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), cujo coordenador é o delegado Gustavo Brentano.
De acordo com ele, uma perícia a cargo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) já foi feita no local. “Vamos ouvir as partes envolvidas visando apurar eventual responsabilidade criminal para, em seguida, remeter o inquérito ao Poder Judiciário”, disse ele. Durante as cheias de maio do ano passado, Saccon estava em Florianópolis, retornando dias mais tarde. Navios rebocadores tentaram retirar a embarcação, apenas conseguindo a deslocar, mas sem sucesso em sua remoção total.