A ida do governador Eduardo Leite para o PSD, oficializada nesta sexta-feira, é o pontapé inicial para uma série de arranjos políticos no Estado visando o pleito do próximo ano, a começar por uma mudança na composição do Parlamento gaúcho. Isso porque a tendência é de que ocorra uma migração em bloco dos deputados, incluindo os federais, para acompanhar o governador na sigla de Gilberto Kassab. Caso isso se confirme, o PSD, que hoje tem só uma cadeira, pode ver o seu número de deputados inflar.
Em alguns casos, como o da deputada Nadine Anflor, a insatisfação com o PSDB já era crescente e a saída, favas contadas. O mesmo acontecia com os deputados federais Lucas Redecker e Daniel Trzeciak. No entanto, a ida de Leite para o PSD e a fusão do PSDB com o Podemos abriram novas possibilidades.
No início de maio, após uma longa reunião com o governador, os deputados começaram a discutir a ideia da ida em bloco para o PSD. Na Assembleia, a tendência é de que ao menos quatro dos cinco deputados tucanos sigam esse rumo. Nos próximos dias, os deputados devem conversar com as bases e uma nova reunião entre Leite e os parlamentares será agendada. Para o deputado Neri, Carteiro, o ‘martelo’ só será batido após a reunião, na próxima segunda-feira, com o PSDB de Caxias do Sul, o qual ele preside. Bonatto e Nadine confirmam a propensão de migração.
Na Câmara dos Deputados, Trzeciak, apesar de achar a ideia atrativa, olha a migração com cautela. Seu principal entrave é a participação do partido no governo Lula, hoje com três ministérios no primeiro escalão.
Apesar da janela partidária para deputados ainda estar distante (abril do próximo ano), se confirmada a fusão com o Podemos, os tucanos insatisfeitos com o novo partido têm a possibilidade de fazer a troca de partido antes. O processo, contudo, também deve levar algum tempo. Por isso, interlocutores ainda insistem em afirmar que as conversas estão no começo.
Além disso, os deputados também avaliam a estrutura partidária e aquilo que vai ser oferecido por Kassab, visto que alguns parlamentares, como Nadine, Redecker e Trzeciak, já estavam sendo cortejados por outras siglas. Apesar de ser um dos maiores partidos no país, o PSD tem pouca influência no Rio Grande do Sul. A legenda fez 12 prefeitos e 110 vereadores nas eleições de 2024 e só um deputado estadual e um federal.
Entretanto, com Leite assumindo a direção estadual do partido e a migração esperada com a sua ida, a sigla, até então de pouca expressão no Estado, pode ganhar peso, angariando não só um governador, mas uma bancada na Assembleia de quatro a seis deputados, ao menos mais um parlamentar na Câmara e uma série de vereadores. A missão, para quem vai, é construir.
Enquanto isso, a fusão do PSDB com o Podemos pode construir um novo partido que, apesar de pouco atrativo para quem fica e já passou por todo o desgaste tucano, é também nova possibilidade para os que buscam fugir da polarização. A exemplo da bancada do União Brasil na Assembleia (Dirceu Franciscon, Aloísio Classmann e Thiago Duarte). Os deputados, ante a insatisfação com a federação do partido com o PP e a forma como foi conduzida, ensaiam a saída em conjunto do partido, minguando o União Brasil dentro da Casa.
E, apesar do Republicanos despontar como principal candidato, os arranjos para as eleições de 2026 pesam na escolha. Isso porque os deputados têm total alinhamento com o Executivo e pretendem se manter tanto na base quanto no projeto de continuidade de governo liderado pelo vice, Gabriel Souza (MDB). Com isso, o flerte do Republicanos com uma possível chapa de Luciano Zucco é um impeditivo. Entretanto, se esse fator for desconsiderado e a entrada dos três deputados confirmada, o Republicanos se tornará a maior bancada da base aliada, com oito parlamentares – passando o PP, com sete.