A taxa de juros elevada é a principal preocupação da construção civil para 2025, em um cenário em que os custos do setor voltaram a subir acima da inflação oficial do país. Os indicadores econômicos do desempenho no primeiro trimestre e as perspectivas para o restante do ano foram apresentados nesta quarta-feira, 7, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Apesar da conjuntura econômica desafiadora, a CBIC mantém a previsão de crescimento de 2,3% para o setor, impulsionada especialmente pela ativação da faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. A taxa Selic, divulgada hoje, deve atingir 14,75%, o maior patamar em quase 20 anos. “Os juros altos seguem sendo o principal problema do setor. Seguida pela carga tributária em segundo lugar e depois temos a mão de obra. E nós também registramos que o nosso custo voltou a crescer acima da inflação oficial do país”, afirmou a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos.
Para o presidente da CBIC, Renato Correia, o cenário exige cautela. “O crescimento da taxa de juros é, realmente, uma preocupação. Esse é o inimigo número um da economia. Você tem uma pressão de custo de material, de mão de obra e de taxa de juros. E uma possibilidade da renda de quem compra não crescer daqui para frente. Então precisamos estar atentos e investir nas possibilidades de créditos disponíveis”, destacou.
Ieda também reforçou os impactos da taxa sobre o crédito. “O recuo na captação da poupança compromete uma das principais fontes de financiamento do crédito imobiliário. É essencial termos taxas de juros mais baixas para que esse público possa aumentar a sua demanda e o ritmo de lançamentos crescer.”
Nesse sentido, ela destacou a importância do lançamento da faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida. “Esse é um sopro de esperança diante de um cenário tão desgastante com a taxa de juros num patamar tão alto”, avaliou. A CBIC observou que o cenário de crédito em 2025 requer atenção. Embora a expectativa para a atividade do setor permaneça positiva, o acesso ao financiamento continua sendo um desafio, especialmente para as famílias de renda intermediária.
“Existe demanda e crédito. O FGTS vai aplicar R$ 127 bilhões e temos a extensão do faixa quatro do MCMV, que vai aplicar mais 30 bilhões, então parte do segmento vai estar abastecido”, explicou Renato. “Para imóveis acima de 500 mil, essa concessão de crédito vai ser um pouco mais seletiva porque você vai ter menos dinheiro de caderneta de poupança. Ou seja, deve ter menos oportunidade de compra, via crédito”, registrou Ieda
Os juros altos também contribuem para a saída de recursos da poupança — principal fonte de financiamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No primeiro trimestre de 2025, a captação líquida foi negativa em R$ 34,6 bilhões, superando a perda registrada em todo o ano de 2024 (R$ 21,7 bilhões). Desde 2021, a poupança já perdeu R$ 244,4 bilhões.
PROJEÇÃO
Mesmo diante do cenário de juros elevados, a CBIC manteve a projeção de crescimento de 2,3% para a construção civil em 2025. “Assim como projetado em dezembro de 2024, a CBIC aguarda crescimento de 2,3% para o setor. A expectativa mais positiva — gerada especialmente com a criação da faixa 4 — contribuiu para a manutenção dessa taxa. Espera-se que já nos últimos meses do ano o setor sinta os reflexos positivos dessa medida”, explicou Ieda Vasconcelos.
Dois componentes principais puxaram o aumento do INCC. “O custo com mão de obra apresentou avanço expressivo de 9,96% nos últimos 12 meses finalizados em março de 2025, reflexo de negociações salariais e reajustes regionais. No mesmo período, o custo com materiais e equipamentos acumulou alta de 6,09%, o que pode estar refletindo aumentos nos custos de produção dos insumos”, explicou Ieda.
Ela também observou que “ambos registraram variações acima da inflação geral medida pelo IPCA, o que reforça o descompasso entre o avanço dos custos do setor e o comportamento dos preços na economia em geral”.
A construção civil encerrou o primeiro trimestre com saldo positivo de 100 mil novas vagas com carteira assinada, segundo o Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O setor somava, em março de 2025, 2,958 milhões de trabalhadores formais — alta de 3% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Em março, a construção foi o setor com o maior salário médio de admissão do país: R$ 2.420,97, acima da média nacional de R$ 2.225,17. “Certamente isso é uma boa notícia para quem trabalha no setor ou para quem quer trabalhar. Essa remuneração vem crescendo por conta da entrega de habitação e infraestrutura no país. E o reflexo vem para quem trabalha no setor com esse benefício”, afirmou Renato Correia.
Para o presidente da CBIC, “mesmo com pressões de custos e cenário de juros ainda elevados, a construção civil mantém ritmo relevante de geração de emprego formal. Além disso, a liderança no salário médio de entrada pode ser reflexo da maior capacitação profissional e da maior complexidade das obras em curso”.
INSUMOS
No primeiro bimestre de 2025, a produção de insumos típicos da construção cresceu 4,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do IBGE. O resultado reflete o forte aumento nos lançamentos imobiliários em 2024, que avançaram 18,6%. O comércio varejista de materiais de construção também cresceu 6,7% nos dois primeiros meses do ano, na comparação anual. O mercado de trabalho aquecido e o aumento da renda média explicam parte desse desempenho.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) analisados pela CBIC, as vendas acumuladas de cimento no primeiro trimestre de 2025 totalizaram 15,6 milhões de toneladas — alta de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“A manutenção do mercado de trabalho aquecido e o incremento dos lançamentos imobiliários no ano passado ajudam a sustentar a demanda por insumos, ainda que os custos da construção sigam acima da inflação oficial do país”, avaliou Ieda.