Consumo de carne bovina volta a cair após dois anos

Conab aponta que consumo per capita recuou de 35 quilos para 31,9 quilos por habitante ao ano

A quantidade de carne bovina consumida pelos brasileiros em 2025 voltou a cair, após dois anos de alta. A projeção é da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. consumo per capita, que chegou a 35 kg por habitante em 2024, maior nível desde 2014, recuou para 31,9 kg neste ano, uma queda de 9%. Os dados são de janeiro, mas foram atualizados até 28 de abril.

Segundo a Conab, neste ano, há uma tendência de início da reversão do ciclo pecuário, com a retenção de fêmeas pelos criadores. “Com isso, a estimativa é que a produção seja menor que a registrada no ano anterior, estimada em 10,37 milhões de toneladas. Ainda assim, este é o segundo maior volume de produção já registrado no quadro de bovinos, atrás somente de 2024″, afirma em nota.

Além disso, as exportações do produto brasileiro seguem aquecidas. A estimativa aponta para uma comercialização ao mercado externo de 3,86 milhões de toneladas. Em março, houve crescimento de 30,2% na exportação de carne, acumulando alta de 12,8% no primeiro trimestre de 2025, de acordo com a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).

“Essa combinação (queda na oferta e aumento na demanda externa) pode resultar em uma menor disponibilidade interna em torno de 6,58 milhões de toneladas, índice semelhante ao registrado em 2023. No entanto, essa expectativa será equilibrada pelos aumentos produtivos das demais proteínas, mantendo a disponibilidade per capita das 3 principais proteínas consumidas no país acima dos 102 kg/habitante/ano”, acrescenta a Conab.

Dados da Conab atualizados em 28/04/2025Arte/R7
INFLAÇÃO

O mercado depende de fatores globais, mas o poder de compra dos brasileiros também tem impacto. Desde setembro de 2024, a carne tem registrado aumento. Apesar da queda de 0,61% do preço em abril, segundo a prévia da inflação, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), do IBGE, no acumulado dos últimos 12 meses, o item atingiu alta de 22,16%. O índice ficou bem acima da inflação do período, de 5,49%.

Entre os cortes, o preço do acém é o que mais subiu, 26,39% no acumulado de 12 meses. Em seguida, lagarto (23,40%), patinho (23,39%) e contrafilé (23%). Para Matheus Dias, economista do FGV Ibre, o cenário da carne bovina atual não se caracteriza uma crise de oferta, mas sim um ponto de restrição.

“A gente tem que levar em consideração que esses dados são de janeiro, a oferta tem aumentado nesse período, tanto é que, em fevereiro e março, observamos queda nos preços ao produtor, que acaba se refletindo em repasse ao consumidor. Então, vejo que o cenário ainda é de conforto em relação à oferta. Não vejo que vai haver falta do produto, a ponto de os preços dispararem.”

A carne bovina acaba tendo maior peso nos índices de inflação. “Mas o que a gente pode observar, no momento, é uma maior disponibilidade de rebanho para abate. Isso faz com que o preço tenha certa estabilidade, mesmo que com períodos que suba um pouco mais ou caia um pouco menos, mas nada muito intenso.”

Segundo ele, perspectiva para os próximos meses vai depender de como estará o cenário de rações, principalmente o milho e a soja, que apresentaram volatilidade de alta, o que acaba sendo repassada.

“Os repasses de preços ao produtor não têm sido tão grande. Como as altas no ano passado foram muito fortes, isso fez com que os preços subissem muito rápido, por sua vez, reduzindo o consumo. Então, não é ideal que você reduza o consumo de forma tão intensa, quando há aumento de preços. Pode haver repasses nos próximos meses, mas eles não serão intensos.”

Além disso, o dólar, que é um componente importante nesse processo de precificação do custo da carne, tem registrado queda. “As commodities são precificadas em mercado internacional, os fertilizantes são importados. Você tem todo um cenário que faz com que o mercado dependa do câmbio”, explica o economista.

Ele cita ainda o aumento das exportações. Com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a demanda externa pode aumentar e ocorrer uma mudança de fluxo comercial. Segundo ele, principalmente em abril, depois que a guerra comercial escalou, os embarques de carne aumentaram para a China.

“A questão é se isso vai se manter ou não. Se vai ser um movimento temporário ou se de fato vai ter um deslocamento de fluxo de comércio. Aí entra a questão da oferta. Se tiver uma compensação, pode ser que os efeitos sobre os preços internos não sejam tão grandes assim. A gente tem que acompanhar nos próximos meses como vai ficar a questão, tanto das exportações quanto da oferta, se a produção de carnes vai conseguir compensar esse aumento de demanda, no caso, o consumo externo”, conclui Dias.

(*) com R7