Radiografia da malha ferroviária gaúcha preocupa FEDERASUL

Tá na Mesa desta quarta, 16, discutiu concessão, que termina no começo de 20276

Da esquerda para a direita: Rodrigo Costa, Gabriel Souza, Felipe Camazzato e Antonio Carlos Bachieri Crédito: Sergio Gonzalez/Divulgação

O Tá na Mesa desta quarta-feira, 16, teve como pauta central o resgate das ferrovias gaúchas. O encontro contou com a participação do vice-governador Gabriel Souza e do presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias, deputado estadual Felipe Camazzato, que discutiram os desafios e perspectivas para o futuro desse modal no Sul do Brasil.

O tema é motivo de grande preocupação para a FEDERASUL, que cobra uma atuação mais responsável da concessionária Rumo Malha Sul. Para o presidente da entidade, Rodrigo Sousa Costa é inaceitável o desrespeito com que a concessionária tem tratado o Estado. Há mais de 25 anos, a concessão ferroviária deixa de cumprir seu papel de serviço público.

“Não podemos mais conviver com uma concessão mal-sucedida. Após todo o esforço de reconstrução pós-tragédia, este é o momento de acelerar todas as iniciativas possíveis. Não há espaço para prorrogar um contrato com uma empresa que sistematicamente falha em nos atender”, disse.

Durante sua fala, Gabriel Souza apresentou um diagnóstico sobre a atual situação das ferrovias gaúchas. Ele lembrou que o contrato de concessão, firmado em 1997, termina em 2027 — e que agora é o momento de tomar decisões estratégicas. Segundo ele, houve uma queda de quase 50% na movimentação de cargas pelas ferrovias do RS nos últimos 18 anos.

Além disso, segundo o vice-governador, há uma ausência de transporte ferroviário de contêineres e produtos siderúrgicos, que em 2013 representavam 12% da carga transportada. “Apenas 2% dos fertilizantes usados no Estado são transportados por ferrovias. A velocidade média dos trens caiu pela metade e hoje é de apenas 12 km/h, a quarta mais baixa do Brasil”, disse.

Souza também contestou a justificativa da concessionária sobre a suposta sazonalidade da demanda de grãos, argumentando que há fluxos relativamente constantes. Além disso, destacou que a capacidade rodoviária de recebimento no Porto de Rio Grande já supera a da ferrovia.

PROPOSTAS

Além do estudo técnico, solicitado pelo governo do estado para a Portos RS, que será encaminhado para o governo federal, o governo gaúcho criou cenários de possibilidades de modelagens para contribuir com o debate no grupo de trabalho criado pelo Ministério dos Transportes. Entre as propostas está o encurtamento de trechos ferroviários, como a construção de uma variante entre Santa Maria e São Gabriel, que reduziria o percurso em 112 km. Essa mudança faria o custo do frete cair de R$ 172,04 para R$ 134,35 no trecho rodoviário;

Sobre a Ferrovia do Trigo (Trem dos Vales) — trecho de 46 km entre Guaporé, Dois Lajeados, Vespasiano Corrêa e Muçum, com 20 km danificados pelas chuvas — o Estado propõe a devolução do trecho reparado pela concessionária à União.

Já o deputado Felipe Camazzato, presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias, destacou que o Rio Grande do Sul está estrategicamente posicionado, mas enfrenta graves entraves logísticos. “Estamos sem conexão com o restante do país. Isolados desde antes das enchentes.”

Para ele, enquanto a média de outros países gira em torno de 9% do PIB, no Brasil essa cifra é de 12%. No RS, antes da enchente, os custos logísticos já alcançaram 21,5% do PIB, chegando a 28% após a tragédia climática. Segundo Camozzato, reduzir o custo logístico de 21,5% para 18% do PIB geraria um ganho de R$ 24,7 bilhões por ano para a economia gaúcha. “Investir no Rio Grande do Sul pode trazer um retorno significativo para o Brasil como um todo”, afirmou.