Dados da China e discursos de diretores do Fed são destaque na semana de feriado

Dependendo de Donald Trump, esses dias seriam amenos na agenda dos investidores

Crédito: Agência Gov.BR

A semana entre 14 e 18 de abril será mais curta, com o feriado de Paixão de Cristo nos países ocidentais na sexta-feira, 18. Esses dias seriam amenos na agenda dos investidores, se não fossem as incertezas alimentadas pelas decisões do presidente dos EUA, Donald Trump, que provocaram o caos no sistema comercial mundial com a adoção de tarifas de importação de todos os países do mundo, e as retaliações chinesas.

A agenda tem poucas divulgações relevantes de indicadores econômicos. O foco ficará na China, com os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, e na zona do euro, com a decisão de taxa de juros, sendo o primeiro Banco Central relevante a realizar uma reunião de política monetária após a turbulência tarifária. No Brasil, o radar do mercado ficará em relação à proposta de Orçamento de 2026, que será encaminhada pelo governo federal ao Congresso na próxima terça-feira, 15, com a promessa do retorno do superávit primário no ano que vem, com uma meta de 0,25% (ante 0% deste ano).

A suspensão da adoção das “tarifas recíprocas”, mantendo apenas as alíquotas mínimas de 10% e as setoriais de 25% para aço, alumínio e automóveis, tampouco trouxe estabilidade aos ativos de riscos, apesar do repique logo após o anúncio da pausa da cobrança das novas tarifas. A incerteza trouxe até aversão a ativos porto-seguro ancorados na economia dos EUA, com o dólar em queda e o rendimento dos títulos do Tesouro de longo prazo subindo – quando o natural seria uma alta do dólar e queda dos rendimentos em períodos de crise, incertezas e alta volatilidade.

Os investidores se refugiaram no ouro, títulos de dívida da Alemanha, euro, iene e franco suíço. Há várias causas para essas inconsistências. Haverá nas próximas semanas uma disputa entre narrativas se estamos testemunhando uma mudança estrutural na economia mundial, ou se são apenas fatores conjunturais intensificados pela intempestividade das decisões de Trump.

POLÍTICA MONETÁRIA

Essa disputa interpretativa é importante porque vai ser o pano de fundo das estratégias dos investidores para os próximos meses, em meio à espera da definição da condução do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) à política monetária nas próximas reuniões, sob a expectativa de uma desaceleração forte do crescimento e alta inflacionária (quiçá, uma estagflação) nos EUA. “Para o dia a dia do operador de mesa, a pergunta essencial é: qual será o foco do duplo mandato do Fed nos próximos meses: o combate à inflação ou enfrentar a queda do crescimento econômico?”, questiona Leandro Manzoni, analista de economia da plataforma Investing.com.

Pelos discursos recentes das autoridade do banco central americano, o foco está em busca da estabilidade de preços e de levar a inflação ao centro da meta de 2% ao ano, com reconhecimento de que, no curto prazo, as tarifas tendem a elevar o nível de preços e aumentar o desemprego. Vários membros do Fed vão discursar na próxima semana, inclusive o presidente da instituição, Jerome Powell, na quarta-feira, 16, e cada palavra será monitorada e interpretada.

DESANCORAGEM

“O objetivo do Fed é, em linhas gerais, não deixar a expectativa de inflação desancorar, longe da meta de 2%, após o impacto das tarifas. Os discursos devem ser duros, sem abrir margem para uma interpretação de que a inflação seja transitória, o que remete à desastrosa tentativa de ancoragem da expectativa em 2021 após o desmantelamento das cadeias produtivas na pandemia de coronavírus”, comenta o analista.

Segundo ele, resta saber se a estratégia dará certo. O preço de tela dos títulos atrelados à inflação não apresenta desancoragem, porém os índices de expectativa dos consumidores estão se deteriorando. O mercado ainda projeta pelo menos 3 cortes de juros em 2025, de acordo com os derivativos do CME Group.

“Os investidores ainda estão, porém, anestesiados com o período da enxurrada de dinheiro do quantitative easing e juros 0% após a crise de 2008 e do coronavírus, se apegando ao objetivo de estímulo da economia do mandato do Fed, e não captam a mensagem das autoridades de preocupação com a expectativa de inflação. Talvez a medida mais imediata do banco central americano, já na próxima reunião em maio, seja o fim do quantitative tightening. Ou seja, o Fed deve parar de diminuir o seu balanço com a venda de títulos públicos e hipotecários, contribuindo para estancar a arrancada dos rendimentos dos títulos no longo prazo”, comenta Manzoni.

No Brasil, a agenda econômica inclui a divulgação do IGP-10 pela Fundação Getulio Vargas, na terça-feira, 15, e a segunda prévia do IGP-M de abril, na quarta-feira, 16, pela mesma fundação.