Dados de atividade e IPCA no Brasil são destaques em meio ao caos tarifários de Trump

Investidores vão monitorar os desdobramentos das “tarifas recíprocas” dos EUA

Crédito: Freepik

O anúncio das tarifas “recíprocas” pelo presidente dos EUA Donald Trump, e a consequente reação do governo chinês, lançou o mundo em uma divisão pouco receptiva para os investidores: os dados “concretos” e os dados “não concretos”, como salientou o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em discurso proferido na última sexta-feira, 4. A incerteza prepondera nas tabelas e gráficos dos economistas e investidores mundo afora. É o pior cenário para quem toma decisões de investimentos, pois sob informações positivas ou até negativas, é possível esboçar com previsibilidade uma antecipação do que pode vir acontecer na economia. O mercado financeiro faz isso com maestria, mesmo sob alguns momentos de euforia que levam a distorções e crises.

Conforme o analista de economia da plataforma Investing.com, Leandro Manzoni, aos economistas terão um trabalho hercúleo em separar quais dados, cuja coleta foi realizada no passado, ainda tenham relevância no presente ou apenas serão computados como uma mera formalidade estatística para os historiadores, especialmente nos EUA. Por isso, passam a ter cada vez mais importância os indicadores antecedentes e de expectativas de consumidores e empresariais de diferentes segmentos – como a pesquisa da Universidade de Michigan -, além de discursos de autoridades monetárias de cada país, especialmente da maior economia do mundo.

O destaque da semana entre os dias são os índices de preço aos consumidores de Brasil, EUA e China, além dos dados de atividades relacionados ao varejo e serviços da economia brasileira, assim como o IBC-Br, na sexta-feira, 11, a prévia do PIB mensurado pelo Banco Central do Brasil (BC). Os dados internos podem começar, ao contrário do exterior, a encaminhar um terreno de menor rigidez na política monetária do Copom, podendo antecipar o fim do atual ciclo de alta da taxa Selic, especialmente se o IPCA de março vier ao menos em linha com o esperado pelo mercado na próxima sexta-feira, 11.

A semana começa com o tradicional Relatório Focus, nesta segunda-feira, 7, assim como números dos Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Industrial (CNI). Na terça-feira, 8, será divulgada a primeira prévia do I|GP-M de abril, pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o resultado primário do setor público, pelo BC, números da Anfavea nacionais e do Sincodive/Fenabrave no Rio Grande do Sul. Já o IBGE libera dados da Pesquisa Industrial Mensal regional.

Na quarta-feira, 9, tem a abertura do South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre, e a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, além do Índice de Preços ao Produtor (IPP). Na quinta-feira, 11, sai a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e o Boletim de Estatísticas Fiscais do Governo Geral – 1º tri de 2025, do BC.

Embora o BC aponte que os dados indiquem uma incipiente desaceleração da economia, se os indicadores dessa semana vierem com desaceleração forte, negativo e abaixo do consenso, é possível que comecem a surgir revisões de taxa terminal da Selic entre os grandes bancos e corretoras, especialmente se os preços do petróleo ficarem no patamar atual após perderem mais de 10% em dois dias nesta semana. Atualmente, as projeções da taxa Selic estão entre 15% e 15,5%.

“Os dados de desaceleração e de queda do preço do petróleo não devem levar o Copom a não cumprir o guidance de ao menos mais uma alta da taxa de juros na próxima reunião em maio. Porém, pode levá-lo a indicar o fim do ciclo de alta nesta ou na reunião seguinte. Vai depender de como estará o mercado de trabalho, que continua aquecido e surpreendendo os economistas, e as contas públicas, as quais têm divulgado os dados mais recentes na segunda-feira, 7, pelo BC”, diz Manzoni.

E, claramente, se o IPCA de março não vier acima do esperado, com os índices de difusão e dos núcleos inflacionários se deteriorando. Em relação à política fiscal, o governo tem que fazer a sua parte e ajudar o Copom, deixando de utilizar os recursos parafiscais de fundos setoriais e sociais para alavancar a economia, driblando as regras do Novo Arcabouço Fiscal. Em meio a uma popularidade em queda, é muito provável, no entanto, o uso pelo governo desses recursos extrafiscais.

MERCADO AMERICANO

Nos EUA, a semana está recheada de discursos de membros do Fed, além da divulgação da ata da última reunião de política monetária. As atas geralmente trazem poucas surpresas, mas a última reunião já foi realizada sob as incertezas da política comercial do novo governo americano. Com isso, alguma surpresa pode conter o documento.

Em relação aos discursos das autoridades do Fed, é preciso monitorar em qual objetivo de política monetária será depositado o maior peso na avaliação, a estabilidade de preços ou a promoção do pleno-emprego, ainda mais que a narrativa de estagflação (cenário de recessão econômica com inflação elevada) começa a despontar no mercado, a qual levaria a uma condução de política monetária extremamente difícil para o Fed.

“Na visão de Powell, a economia ainda está longe desse cenário, embora reconheça que há uma desaceleração em curso e um aumento de preços vindo devido às tarifas. Com isso, os dados de inflação ao consumidor, na quinta-feira, e ao produtor, na sexta-feira, ambos de março, ganham especial atenção dos investidores. São dados que possam apontar se, antes da aplicação das tarifas, a inflação americana já estava em curso de aceleração”, diz o analista da Investing.com.

Se esses dados vierem acima do esperado pelo mercado, os investidores podem intensificar o refúgio em ativos seguros, fugindo do risco. Caso venham em linha ou abaixo do esperado, reforça a narrativa intensificada nesta semana de ao menos 4 cortes de juros de 25 pontos-base em 2025, e um adicional na primeira reunião de 2026, colocando o peso da desaceleração econômica e de deterioração do mercado de trabalho nos holofotes do Fed nos próximos meses, apesar de uma inflação maior no período. “Neste cenário, cabe ao Fed ancorar as expectativas de inflação futura e apontar que as altas de preço serão temporárias. Porém, esse filme já vimos antes, com o próprio Powell no comando do Fed após a pandemia, e seu desfecho foi uma inflação anualizada de dois dígitos”, comenta Manzoni.