O presidente Donald Trump deverá revelar sua proposta de tarifas recíprocas na quarta-feira, 2, durante um evento no Rose Garden da Casa Branca. Conforme a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, o anúncio incluirá tarifas “baseadas em países”. Ela também afirmou que o presidente está “comprometido em implementar” tarifas setoriais, mas que essas não serão o foco do evento do dia 2 de abril, deixando a decisão sobre o cronograma dessas tarifas a cargo de Trump.
Trump anunciou a quarta-feira como o lançamento de tarifas abrangentes que centralizam o seu plano para reequilibrar o comércio global, estimular a manufatura nos EUA e injetar receitas tarifárias nos cofres do governo para financiar prioridades domésticas, incluindo uma significativa redução de impostos. O presidente já havia imposto tarifas sobre o Canadá, México e China — os três maiores parceiros comerciais dos EUA — além de tarifas sobre automóveis e peças, aço e alumínio. Ele poderá anunciar também tarifas sobre importações de produtos farmacêuticos, semicondutores e madeira.
Conforme ocorreu na última semana, os investidores vão monitorar o tamanho das chamadas “tarifas recíprocas” recorrentemente prometidas pelo presidente norte-americano, sob o objetivo de colocar nas importações a reciprocidade tarifária que as exportações americanas sofrem em outros mercados.
“O ceticismo impera no mercado mesmo que apenas setores selecionados sejam tarifados, mas o anúncio de alta das alíquotas de importação sobre automóveis nesta última semana foi um balde de água fria, pois afeta a cadeia produtiva da indústria automobilística americana, dependente de importações de componentes produzidos no México e no Canadá”, comenta Leandro Manzoni, economista da plataforma Investing.com.
INFLAÇÃO
Com isso, receios de aceleração inflacionária imperam no mercado com as tarifas, ainda mais que o núcleo do índice de preços PCE, indicador de inflação favorito do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), acelerou em fevereiro e veio acima das expectativas do mercado, de acordo com a divulgação nesta sexta-feira, 28, somado à deterioração da expectativa de inflação futura dos consumidores americanos.
Os discursos dos membros do Fed são favoráveis à condução da política monetária atual, com prováveis dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa de juros ao longo de 2025. Porém, já começam a aparecer revisões de projeções mais duras de autoridades do Fed, como de Raphael Bostic, que admitiu nesta semana que reduziu de 2 para 1 a estimativa de corte. Membro mais hawkish na visão da condução da política monetária, resta saber se a nova projeção de Bostic vai influenciar a avaliação de seus pares e se vai se confirmar nos próximos meses.
O mercado ainda prevê 3 cortes de 0,25 ponto percentual ao longo deste ano. Na sexta-feira, será divulgado o relatório de emprego do setor não-agrícola, conhecido como payroll, e outros dados relacionados ao mercado de trabalho em março nos EUA. A expectativa é de uma redução do número de vagas geradas, de 150 mil em fevereiro para 120 mil no mês passado. Os investidores vão avaliar também a taxa de desemprego, cuja estimativa é de elevação de 4,1% para 4,2%, além do número de vagas geradas ou excluídas do setor público após as demissões promovidas pelo Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) liderado pelo bilionário Elon Musk, dono da Tesla, SpaceX e outras empresas de tecnologia.