Estudo da CNC mostra que passagens aéreas subiram até 328%

Entidade demonstra preocupação com a possível fusão entre as companhias

Foto: Camila Cunha / Correio do Povo

Com passagens, em média, 118% mais caras, chegando a aumentos de tarifas de até 328%, na Região Norte, o sistema aéreo brasileiro vive um cenário de concentração, pouca concorrência e alto custo operacional. O alerta foi feito durante o evento Desafios da Aviação Regional e os Impactos para o Desenvolvimento do País, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em Brasília.

Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, a aviação regional deve ser tratada como ferramenta essencial de integração nacional, e não como serviço de luxo, já que em muitos trechos do País, especialmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste, não há alternativas viárias seguras ou viáveis.

“Não temos rodovias em muitos trechos, e as que existem estão em péssimo estado. A aviação regional é, muitas vezes, a única via de acesso. A aviação regional não pode ser luxo, ela precisa ser tratada como uma questão de integração nacional. Por isso, o Brasil não pode continuar dependendo de duas ou três empresas”, afirmou.

Tadros também demonstrou preocupação com a possível fusão entre as companhias Azul e Gol, o que poderia agravar ainda mais o cenário de concentração. “Corremos o risco de ter somente duas companhias operando em todo o território. Isso é insustentável”, completou.

ALTA NO PAÍS

Segundo o levantamento da Confederação, a tarifa aérea média subiu 118% em termos reais desde a pandemia. Esse aumento foi ainda mais expressivo em algumas regiões do País, como o Norte, onde a alta chegou a 328%. No Nordeste, a elevação foi de 134% e, no Centro-Oeste, 130%, com dados de 2025.

A análise da CNC aponta que apenas três companhias aéreas dominam 99,8% do mercado nacional, o que reduz drasticamente a concorrência. Como resultado, os consumidores acabam pagando mais caro, mesmo diante de um cenário de demanda aquecida.

“Estamos diante de um mercado altamente concentrado e com comportamento atípico: a demanda continua forte, mesmo com o aumento dos preços. Isso mostra quanto a aviação é essencial no Brasil — mas também quanto falta concorrência real. Há uma distorção de mercado que prejudica o turismo, o comércio e a mobilidade no País”, avaliou Felipe Tavares, economista-chefe da CNC e autor do estudo.

TURISMO

O ministro do Turismo, Celso Sabino, destacou que o Brasil atravessa um dos melhores momentos da história do turismo nacional. Em 2024, o País registrou 118 milhões de passagens aéreas vendidas, recebeu 6,7 milhões de turistas estrangeiros e atingiu um gasto médio de R$ 2,5 mil por viagem no mercado interno.

Apesar dos números positivos, Sabino ressaltou que a aviação ainda é um gargalo. O querosene de aviação, por exemplo, representa 40% do custo da passagem no País e pode chegar a 60% na região amazônica. Para o ministro, a ampliação da concorrência é o caminho mais eficaz para reduzir os preços. “Se tivermos mais empresas competindo, quem ganha é o passageiro”, afirmou.