Semana para conhecer a ata do Copom, IPCA-15 e mercado de trabalho

Mercado quer saber qual a previsão de taxa de juros terminal projetada para a Selic

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A semana pós elevação da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reserva a divulgação de novos dados para a busca de sinais em relação à trajetória da política monetária nos próximos meses, especialmente à taxa terminal no atual ciclo de aperto. Além da ata do Copom, que elevou para 14,25% a taxa de juros anual, serão conhecidos os números da prévia da inflação de março, o IPCA-15, e os dados do mercado de trabalho referente a fevereiro, além da primeira edição do Relatório de Política Monetária, que substitui o Relatório Trimestral de Inflação.

 

A segunda-feira, 24, começa com o tradicional Boletim Focus. Os últimos indicadores econômicos não devem trazer mudanças significativas para as projeções de 2025, 2026 e 2027. Na terça-feira, 25, o mercado vai monitorar se o tom dovish no último comunicado do Copom deve alterar a estimativa da taxa Selic para o final de 2025, de 15% estimados para 14,75%. É provável que uma eventual revisão da taxa Selic no fim do ano seja vista no Boletim Focus do dia 31 de março. Na terça ainda tem a divulgação do indicador de Confiança do Consumidor pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

“Os economistas vão esperar a ata para entender como o Copom avalia a “incipiente” desaceleração da economia citada no comunicado, talvez a novidade mais relevante do documento, que foi basicamente uma cópia do comunicado da reunião de janeiro. Se os economistas interpretarem que a descrição da “incipiente” desaceleração da economia seja mais forte do que o comunicado inicialmente aponta, vão chover revisões da taxa terminal do atual ciclo aperto, com algumas casas podendo enxergar a alta de 1 ponto percentual na última quarta, dia 19, como o último aumento de juros”, diz Leandro Manzoni, analista de economia da plataforma Investing.com.

Segundo ele, é provável que a explicação da ata esteja em linha com o que “incipiente” signifique, ou seja, nem o Banco Central pode cravar que a desaceleração provocada pelo choque de juros tenha se iniciado, que os dados de desaceleração mencionados possam ser apenas um desvio temporário de curso. Dessa forma, as estimativas da taxa terminal da Selic devem ficar entre 14,75% e 15%, com alguns ainda apontando 15,5%.

A refinação dessas projeções devem vir ao longo da semana, com a divulgação do IPCA-15 de março e o Relatório de Política Monetária, ambos na quinta-feira, 27. Se a prévia da inflação vier acima do esperado e os dados do mercado de trabalho, na sexta-feira, 28, vierem melhor do que as estimativas, tendem a ganhar força as projeções da taxa terminal entre 15% e 15,5%, com ao menos mais duas altas da taxa Selic nas próximas reuniões.

“Caso o IPCA-15 venha abaixo do esperado e os dados de desemprego pior do que o consenso, as previsões entre 14,75% e 15% ganham força, com ao menos mais uma alta de meio ponto percentual na Selic em maio e uma adicional de 25 pontos-base em junho”, diz Manzoni.

Para encerrar a semana, a sexta-feira, 28, reserva a divulgação do IGP-M mensal, muito usado como fator de correção de contratos, os dados da taxa de desemprego de fevereiro, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, e a Sondagem da Indústria da Construção, da CNI.

EXTERIOR

 

Nos EUA, os principais indicadores serão conhecidos no fim da semana, com exceção da Confiança do Consumidor da Conference Board (CB) na terça-feira, 25. Os dados de expectativa dos consumidores em relação ao dinamismo econômico estão ganhando relevância ante sinais de desaceleração e risco de alta inflacionária com a política comercial do presidente Donald Trump, que acaba refletindo em sua queda de popularidade.

Na quinta-feira, 27, é a vez da leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024, que deve ter registrado uma alta anualizada de 2,3%. Na sexta-feira, 28, é a vez do indicador preferencial do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para a mensuração da inflação: o índice PCE (sigla em inglês para preço dos gastos dos consumidores).

A expectativa é que não haja aceleração na base mensal, porém se os dados virem acima da expectativa podem trazer mais ingredientes para o sentimento de aversão a risco que toma conta dos mercados. Isso levaria o Fed a focar no mandato de estabilidade de preços em relação ao mercado de trabalho, ou seja, uma política monetária mais dura, o que levaria os investidores a diminuírem a expectativa do número de cortes de juros para este ano. Caso venha abaixo do esperado, o sentimento dos investidores tende a se tornar menos conservador, o que pode trazer ganhos para os ativos de riscos e manutenção da expectativa de 2 a 3 cortes de juros nos EUA este ano.