Analistas consideram adequado o tom do comunicado do Copom

Decisão revela que as altas vão continuar, mas em menor magnitude

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O aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros, a taxa Selic, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) já era esperado, por decisão unânime, sem surpresas. O comunicado final é que veio com tom duro. Embora destacando a manutenção do indicador norte-americano entre 4,25% e 4,5%, o ponto mais preocupante está com os números da economia brasileira que sinaliza uma inflação de 5,7% para o ano e bem acima do teto da meta de 4,5%.

Analistas consideram importante o sinal de que as altas vão continuar, mas em menor magnitude podendo ser 0,75, 0,50 ou 0,25 ponto percentual. “O Banco Central tem ainda uma liberdade muito grande para a próxima reunião, então acho que ele traz um discurso mostrando uma maior rigidez, que eles vão sim perseguir uma inflação mais baixa, e essa SELIC, nesse patamar de 14,25%, já endereçando um outro aumento”, diz Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

Para ele, o comunicado revelou uma decisão unânime e eles tinham a possibilidade de deixarem em aberto, já que a próxima reunião só vai acontecer em maio. “Ainda assim, eles trouxeram todos os balanços de risco que o Banco Central enxerga. O comunicado foi muito em linha com os últimos, então ele traz ali um balanço de risco assimétrico, dizendo que tem mais risco de pressão inflacionária”, comenta.

Bolzan vê com bons olhos a sinalização de que vai continuar aumentando os juros, mas com uma magnitude menor. O IPCA de fevereiro que veio em 1,31% e o acumulado de 12 meses, está bastante pressionado ainda, acima de 5%. Então, a inflação corrente está muito pressionada. “A expectativa futura, que é analisada através do boletim Focus, também está desancorada. Então, realmente necessita-se, nesse momento, de um comitê duro que continue subindo os juros, mas em menor magnitude”, diz.

A dúvida é a Selic terminal, ou seja, o fim do ciclo. E o Copom, no entendimento do sócio da The Hill Capital, deixa bem claro, assim como nos últimos comunicados, que vão perseguir a inflação dentro do centro da meta, no horizonte relevante. “E esse horizonte relevante a gente está falando de um ano ou a um ano e meio, não é a inflação desse ano, e sim a metade de 2026. Então, o comunicado trouxe sim esse guidance e eu acho que foi bastante importante”.

Para Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, para a abertura dos mercados desta quinta-feira, 20, se espera uma correção pela Bolsa ter subido seis dias consecutivos e o dólar ter tido uma queda relevante. “Boa parte dessa queda do dólar já era na expectativa por esse aumento de taxa de juros aqui e geralmente é comum depois que esses dados saem os mercados corrigirem. Mas de fato para a tendência que a bolsa está de alta, com seis pregões consecutivos de alta e a tendência de baixa para o dólar, esses dados que saíram em relação não muda em nada o tom otimista. O mercado já estava precificando essas movimentações”.

ESTADOS UNIDOS

O mercado cria uma expectativa muito grande em relação ao que o Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed) vai falar e fica tentando interpretar cada vírgula, acento ou pausa, como se aquilo pudesse ter algum significado. E se observarmos, nos últimos 20 meses, se não mais, a fala dele é sempre a mesma. Ele diz que os indicadores de inflação e emprego é que vão guiar as nossas decisões. E ele trabalha com dados.

“Desta forma, a cada micro oscilação desses indicadores se discute muito sobre o que vai ser feito em relação à taxa de juros. E, se a gente, novamente, observar, a taxa de juros só se movimentou muito quando existiram indicadores mais concretos e mais uma vez ele reforça isso. Powell é supercuidadoso no que fala”, comenta Bruno Corano, da Corano Capital.