O criminoso conhecido como Gordo Gui autorizou um ataque contra vítimas que sequer tinham envolvimento com o tráfico na zona Sul de Porto Alegre. Nesta quinta-feira, a facção dele foi alvo da Operação Zero Sete.
A informação é do Departamento de Homicídios (DHPP) da Polícia Civil, que coordenou a ofensiva ao lado da Polícia Penal e Brigada Militar. Onze pessoas foram presas.
Das nove mortes investigadas no bojo da ação, sete contaram com o aval de Gordo Gui, aponta a 6ª Delegacia de Homicídios. Os crimes ocorreram entre dezembro e janeiro, após ele ter decidido trocar de quadrilha.
Dois jovens e um menino foram alvo de ataque
Um dos casos que a equipe do DHPP solucionou foi registrado na rua Ursa Maior, no bairro Cristal, em 25 de dezembro de 2024. Na data, por volta das 21h30min, tripulantes de um veículo de cor preta efetuaram disparos de pistola e fugiram.
Foram assassinados ali Willian Valença, 22 anos, e Liedson Lemos Padilha, 21. Eles não tinham qualquer relação com facções e, segundo a polícia, morreram apenas por estar em uma área conflagrada.
Além da dupla, um menino de 5 anos também foi alvejado. Ele sofreu disparos na clavícula, no antebraço direito e na perna direita. O pequeno passou por cirurgia e sobreviveu.
O diretor do DHPP, delegado Mario Souza, explica que o protocolo das sete medidas contra homicídios foi aplicado contra os alvos da Operação Zero Sete. A técnica inclui descapitalização de facções, saturação de área, isolamento de lideranças no sistema prisional e operações, sempre com foco em desarticular o crime organizado.
“A operação de hoje foi o quinto ponto do nosso protocolo contra os homicídios. Prendemos lideranças, mandantes e executores. Vamos colocar força máxima contra cada morte que o crime organizado ordenar. O mais importante é solucionar os casos e dar respostas a crimes brutais, como foi o ataque na rua Ursa Maior”, pontuou o delegado Mario Souza.
Dissuasão focada
O protocolo contra homicídios no Estado tem como base a teoria da dissuasão focada, que visa reduzir crimes contra a vida por meio da repressão seletiva de pessoas, no caso, as responsáveis por ordenar assassinatos.
A ideia é influenciar os mandantes para que não provoquem mortes, combinando a aplicação da lei com outras medidas, como a asfixia financeira de facções e a transferência de presos.
O criador da técnica foi o criminologista norte-americano David Kennedy. Professor da Universidade de Nova York, ele foi o responsável por aplicar a teoria nos Estados Unidos, tendo como principal exemplo Boston, onde houve redução brusca de homicídios em meados dos anos 1990.
Outro case de sucesso é a Colômbia. No ano passado, após a prática da dissuasão focada, Medellín alcançou o menor nível de violência em 40 anos.
Em solo gaúcho, o Departamento de Homicídios da PC, BM e Polícia Penal são pioneiros na aplicação do método. Ao final do primeiro semestre de 2023, a tática gerou uma redução de 54,4% dos assassinatos em Porto Alegre.
A cifra foi o menor número do indicador para qualquer mês computado desde 2010, quando teve início a série histórica, o que posicionou a Capital abaixo do índice considerado epidêmico pela Organização Mundial da Saúde (OMS).