“Direção de penitenciária sabia dos problemas de saúde de Deise”, dizem advogados

Pontes, Fernanda e Trindade afirmam que houve negligência com presa encontrada morta dentro de cela em Guaíba

Da esq. p/direita: Fernanda Grivot, Matheus Trindade e Cassyus Pontes - | Foto: Fabiano do Amaral / CP

Os advogados de Deise Moura dos Anjos e da família dela detalharam, na tarde desta quinta-feira, as circunstâncias em que ela vivia na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (PEFG). Suspeita de ter envenenado um bolo que levou três pessoas à morte, a presa foi encontrada morta nessa manhã na cela em que estava recolhida.

Deise estava na unidade desde o dia 6 de fevereiro, após ficar pouco mais de um mês no Presídio Feminino de Torres. O advogado Cassyus Pontes, responsável pela defesa dela, afirmou ter sido contrário à transferência. De acordo com Pontes, o tratamento para depressão que Deise fazia na unidade do litoral norte foi interrompido com a transferência.  Ele também disse ter comunicado à direção da PEFG sobre os problemas de saúde que Deise enfrentava.

“A defesa foi contra a transferência para Guaíba. Isso acabou sendo uma decisão administrativa. A Deise indicou que ali a cela era suja e que havia um forte odor de esgoto, calor em excesso e mosquitos. O prontuário médico dela também não foi juntado ao processo, ou seja, ela parou de ter acesso ao tratamento psiquiátrico que recebia em Torres. Houve apenas um atendimento médico básico, nada além disso, tanto que, após uma visita na segunda-feira, fiz um requerimento para evidenciar os problemas de higiene e de saúde que ela enfrentava”, destacou Cassyus Pontes.

Conforme Fernanda Grivot e Matheus Trindade, que representam a família de Deise, a possibilidade de uma ação indenizatória contra o Estado ainda não foi definida. Segundo eles, os parentes de Deise, que sentem um misto de revolta e tristeza, consideram que houve negligência da gestão da penitenciária em relação ao óbito.

“A família não recebeu uma notificação oficial sobre a morte de Deise. Os parentes dela souberam do ocorrido através da imprensa. Eles não estão acostumados com isso e sofrem com a negligência e a falta de respostas”, apontou Fernanda Grivot.

Matheus Trindade reprovou a “condenação antecipada” de Deise. O argumento é de que a opinião pública a enxergava como culpada, mesmo sem ela ter sido julgada.

Ela foi condenada antecipadamente, não apenas pela opinião pública, mas também por representantes de instituições. Um delegado chegou a dizer que ela não sairia da cadeia viva. Esse tipo de coisa teve influência no desfecho trágico da situação”, disse o advogado.