Indústria química brasileira fechou 2024 com US$ 50 bilhões de déficit

Importações originárias da Ásia (excluído o Oriente Médio) representaram 31% do total

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A trajetória ainda é extensa para driblar a dificuldade que a indústria química nacional vem passando, intensificado, sobretudo, ao longo do ano anterior com as importações predatórias vindas dos EUA e de origens asiáticas e que resultaram em uma preocupante alta de capacidade ociosa. O cenário consta do Relatório Estatístico de Comércio Exterior da indústria química (Rece) divulgado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

O Brasil importou US$ 63,9 bilhões em produtos químicos em 2024, valor que superou os últimos dez anos de acompanhamento da balança comercial setorial pela ABIQUIM, exceção feita à cifra recorde de US$ 80,3 bilhões, registrada em 2022. As quantidades físicas importadas aumentaram 11,5% na comparação com 2023, somando 65,3 milhões de toneladas. Deste total, 41,1 milhões de toneladas foram exclusivamente equivalentes aos intermediários de fertilizantes – grupo que teve um aumento de volume de 7,4% em relação à 2023 – produtos que poderiam ser fabricados no Brasil caso fossem alavancadas entre outras medidas, políticas que estimulassem maior oferta de gás a preços competitivos.

Este é o maior volume importado em toda a série histórica que iniciou em 1989 no contexto de importações predatórias originárias dos Estados Unidos e, sobretudo de países asiáticos, com competitividade sustentada em matérias-primas russas adquiridas com preços beneficiados em razão da guerra no leste europeu e que refletiram na queda do preço médio da importação de produtos químicos em 6,3%.

INDÚSTRIA NACIONAL

No consolidado de 2024, foram registradas elevações nos volumes de importações em todos os segmentos acompanhados, particularmente em importantes grupos de produtos químicos de uso industrial com expressiva fabricação nacional: resinas e elastômeros (32,4%); orgânicos (14,3%); inorgânicos (9,1%); e outros químicos diversos para uso industrial (9,3%), realizadas a preços predatórios – como já mencionado, em média 6,3% inferiores àqueles do mesmo período do ano passado – e que ao longo de todo o ano causaram forte desequilíbrio do mercado interno, levando, inclusive, ao encerramento de fabricações nacionais de produtos estratégicos para várias cadeias de valor.

Em termos das principais geografias fornecedoras de produtos químicos para o Brasil, as importações originárias da Ásia (excluído o Oriente Médio) representaram 31% do total importado, consolidando a condição de tal região como principal fornecedora (importações de US$ 19,6 bilhões) e com a qual, aliás, se registra o maior desequilíbrio comercial setorial (déficit de US$ 18,0 bilhões).

As exportações brasileiras de produtos químicos, por sua vez, de US$ 15,2 bilhões, em 2024, tiveram um aumento de 4,3% na comparação com o ano anterior, mas estabilidade em termos de quantidades físicas exportadas (recuo de 0,2%), no contexto do crescente deslocamento de produtos brasileiros nos principais parceiros comerciais, decorrente da competitividade artificial de produtos asiáticos nesses mercados.

O setor químico brasileiro é o terceiro maior exportador de toda indústria de transformação – antes dele, em primeiro lugar, está o segmento de produtos alimentícios com US$ 66,5 bilhões; e na segunda posição, o de metais básicos com US$ 23,2 bilhões. O déficit na balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 48,7 bilhões, em 2024 – montante financeiro que somente não atingiu ou superou o recorde de US$ 63 bilhões, de 2022, devido aos preços predatórios dos importados, que amorteceram o real desbalanceamento do saldo comercial.

Em 2024, o Brasil foi superavitário apenas em relação aos vizinhos e históricos parceiros comerciais do Mercosul e da Aladi, respectivamente saldos comerciais de US$ 1,4 bilhão e de US$ 180 milhões. Entretanto, foram novamente registrados resultados negativos expressivos em relação à União Europeia e ao Nafta (América do Norte), que somados ultrapassaram um déficit agregado de US$ 20,7 bilhões, além do mencionado crescente desbalanceamento com a Ásia (déficit com essa região se amplia de US$ 10 bilhões, em 2020; para US$ 16,2 bilhões, em 2023 e US$ 18,0 bilhões, em 2024).