Lula diz que não tomará medidas extremas para conter alta dos alimentos

Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (30) que trabalha com medidas para conter a alta no preço dos alimentos, mas afastou qualquer medida que fomente um “mercado paralelo”. Segundo ele, a solução deve girar em torno de um aumento de produção e diálogo com os empresários.

“Eu não tomarei nenhuma medida daquelas que são bravatas. Não farei cota, não colocarei helicóptero para viajar fazenda e prender boi como foi feito no tempo do Plano Cruzado. Não vou estabelecer nada que possa significar surgimento de mercado paralelo”, garantiu Lula.

Entre as medidas estudadas, o presidente indicou a possibilidade de garantir financiamentos para modernizar a produção de pequenos e médios produtores, além de se reunir com empresários para entender os motivos dos aumentos de determinados alimentos, como a soja e a carne. “Quero saber. Se souber, podemos tomar alguma medida juntos, com os empresários, para fazer com que o mercado volte à normalidade”, explicou Lula.

Os alimentos têm enfrentado inflação resistente — observada em 2024 e que deve persistir neste ano. Levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou que alimentos e bebidas foram os itens que mais impactaram a inflação de dezembro, o que afetou mais as famílias de baixa renda. O aumento nos preços de carnes, ovos, óleo de soja e café pressionou o orçamento dos mais pobres.

Segundo Lula, o esforço em torno da redução do preço dos alimentos gira em torno das famílias mais pobres. “Não falta alimento no Brasil”, garantiu. Além dos alimentos, as passagens de transporte público, incluindo trem e ônibus, também registraram aumento. A análise do IPCA, que mede a inflação oficial do país, destaca como o crescimento dos preços é mais severo para quem ganha até R$ 5.304. Esse cenário força as famílias a revisar os gastos e exige que o governo considere medidas econômicas para controlar os aumentos.

Nessa quarta (29), ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou que o governo vai adotar “medidas pontuais” para conter a alta do preço dos alimentos, sem “pirotecnia”. Embora seja uma preocupação do presidente Lula e da equipe federal, o Executivo não deve intervir diretamente para diminuir os valores. Fávaro informou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já informou “que não tem recurso para disponibilizar para redução a curto prazo”.

“As medidas são naturais, não serão medidas heterodoxas. Não dá, não é isso que vai acontecer. O presidente fala toda hora, ‘não vai ter fiscal do Lula’, ‘não vai ter congelamento de preços’. São medidas pontuais, passo a passo, sem nenhum tipo de surpresa, sem nenhuma pirotecnia, que nós vamos tomar estimulando e buscando a estabilidade”, afirmou Fávaro a jornalistas após reunião com Haddad.

Vilões da inflação

No topo do ranking de itens que mais encareceram no ano, estão a tangerina e a laranja lima, com altas de 101,78%, e 86,9%, respectivamente. O grupo frutas, do qual os itens fazem parte, registrou aumento de 16,04%. Outros responsáveis pela aceleração da inflação nesta categoria foram o abacate (73,38%), laranja pera (66,37%), laranja baía (42,98%) e limão (23,11%).

Aumento do diesel

Lula negou, durante a entrevista, que tenha autorizado um aumento no preço do óleo diesel. “Eu não autorizei o aumento do diesel. Desde o meu primeiro mandato, aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo e seus derivados é a Petrobras, e não o presidente da República”.

Lula também comentou que, caso a Petrobras precise realizar um reajuste, o preço ainda será inferior ao registrado em dezembro de 2022, mesmo sem levar em consideração a inflação de 2023 e 2024. “Até o momento não fui avisado sobre nenhuma decisão. Se a Petrobras precisar fazer algo, que o faça e comunique”, completou.

Em relação aos caminhoneiros, o presidente se mostrou disposto ao diálogo: “Nós não temos nenhuma preocupação. Vamos conversar com todo e qualquer setor. Não há nada alarmante, se tivermos disposição para conversar, e nós temos disposição.”

Lula se reuniu, na última segunda-feira (27), com Magda Chambriard, presidente da Petrobras, acompanhado dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Embora a pauta do encontro não tenha sido divulgada, a reunião ocorreu em um momento de forte defasagem dos preços dos combustíveis no Brasil, o que gera expectativas de um possível reajuste por parte da estatal.

Crescimento do PIB
O presidente Lula projetou que a economia brasileira de 2024 fechará com crescimento entre 3,5% e 3,7%. A previsão anunciada por ele, nesta quinta-feira (30), supera índices indicados inicialmente pelo mercado, e deve ser confirmada oficialmente no mês de março.

“Os especialistas diziam que o Brasil iria crescer apenas 1,5% em 2024, nós vamos crescer 3,5% ou 3,7%”, declarou Lula.

A posição veio em uma crítica ao indicado pelo mercado. O chefe do Executivo também lembrou de mudanças alcançadas na economia terem sido maiores do que as indicações feitas por nomes da área em outras gestões do petista:“Outra vez, isso vai se repetir”.

Lula também indicou otimismo com a economia em 2025, em estimativa de retorno de resultados dos primeiros anos do governo. “Nós vamos continuar crescendo. As políticas de inclusão social vão continuar se fortalecendo, a massa salarial, o salário mínimo com inflação, isso tudo sem criar problema da chamada estabilidade fiscal”, declarou. “Tenho muita responsabilidade com esse país”, completou, em outro momento.

Aumento da taxa de juros

O presidente da República afirmou durante a entrevista que o aumento na taxa de juros era esperado e que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não poderia “dar um cavalo de pau no mar, em um mar revolto, de uma hora para outra”. Segundo o presidente, “já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [Roberto Campos Neto], e Galípolo fez aquilo que entendeu que deveria fazer”.

“Temos consciência que é preciso ter paciência e eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente [do Banco Central] e tenho certeza que vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros melhor. No tempo que a política permitir que ele faça”, completou Lula.

O Copom (Conselho de Polícica Monetária), do BC (Banco Central), decidiu nesta quarta-feira (29) elevar a taxa básica de juros da economia brasileira em 1 ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano. Com isso, a taxa volta ao patamar registrado em agosto de 2023, na quarta alta consecutiva, desde setembro. E a perspectiva é que a Selic chegue a 14,25% no primeiro trimestre de 2025.

A primeira reunião do Copom no ano marcou a “estreia” de Gabriel Galípolo como presidente do BC. Ele foi indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.