Reunião do Copom deve confirmar nova alta da Selic nesta semana

Comunicado do mês passado sinalizou duas altas de 1 ponto percentual, em janeiro e março

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A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sob o comando de Gabriel Galípolo ocorre nesta terça-feira, 28, e quarta-feira, 29. A decisão deve ser a segunda alta seguida de 100 pontos-base, elevando a taxa básica Selic de 12,25% para 13,25%, conforme definido na reunião de dezembro, a última sob o comando de Roberto Campos Neto. No comunicado e na ata do encontro do mês passado, o colegiado sinalizou duas altas de 1 ponto percentual nas reuniões seguintes, a de janeiro e a de março.

“A expectativa do mercado é em relação ao comunicado, e que deverá continuar apontando um maior risco de alta inflacionário sob um dólar mais alto, hiato do produto sob um mercado de trabalho apertado e um crescimento econômico robusto, além de uma desconfiança fiscal que, segundo o Copom, está interferindo na alta dos prêmios de risco nos ativos financeiros”, comenta Leandro Manzoni, analista de economia da plataforma Investing.com.

De forma concreta, conforme Manzoni, os investidores vão observar sinalizações de política monetária a partir da reunião de maio. A prévia da inflação de janeiro, divulgada na semana passada no IPCA-15, veio acima da projeção do mercado, levando economistas revisarem para cima as projeções de inflação para 2025.

“As novas estimativas devem elevar a pressão para que o Copom continue a alta da taxa Selic, mesmo sob um ritmo menor, na reunião de maio e nas duas seguintes, encerrando o ciclo de alta provavelmente na reunião de julho com a taxa de juros entre 15,75% e 16,25%”, diz.

DESCONFORTO

Para o professor da Escola de Negócios da PUC-RS, Gustavo Moraes, a cotação do dólar acima de R$ 5,8 ainda causa desconforto em investidores. No primeiro caso, a inflação incomoda a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, registra significativa pressão no grupo de alimentos e está acima da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “Combinadas as duas preocupações espera-se uma elevação de juros de 1%, no caso mais provável, ou de pelo menos 0,75%”, diz.

A decisão em si não deve trazer surpresas no entendimento de Oscar Frank, da CDL Porto Alegre, e o Copom tende a proceder de acordo com o indicado no encontro anterior. Ele lembra que, em entrevista concedida em meados de dezembro, Galípolo afirmou que é “apegado ao guidance” – sinalização dada a respeito dos próximos passos envolvendo a política monetária –, dando a entender que somente uma piora expressiva do quadro macroeconômico seria capaz de gerar, por exemplo, um incremento ainda mais forte dos juros. “A primeira reunião do Comitê sob nova direção é importante não pelo resultado em si, mas por outras questões, como a visão dos membros acerca da atual conjuntura e do cenário prospectivo para a inflação, além da forma de comunicação”, diz.

Para a equipe econômica do Banrisul, a prévia da inflação oficial recuando de 0,34% para 0,11% em janeiro pode ser atribuída, em larga escala, ao desconto do Bônus de Itaipu – um evento não recorrente. “Desse modo, ao mirarmos o indicador sob uma ótica qualitativa, foi possível notar uma deterioração além da prevista para o período em questão”. Para os analistas do banco, outro ponto de atenção veio através da alta dos serviços subjacentes, que fazem parte do núcleo monitorado pelo Banco Central do Brasil (BCB), e têm em sua composição uma grande porção dos serviços básicos, o que poderá pressionar o índice agregado mais adiante.

“Reiteramos nossa perspectiva de que o Copom deverá cumprir o forward guidance – orientação futura – de mais duas altas de 100 pontos-base na taxa Selic, nas reuniões de janeiro e março de 2025, o que deverá levar a taxa de juros para o patamar de 13,25% e 14,25% ao ano, respectivamente. Contudo, não nos parece que novos compromissos de aperto monetário sejam antecipados na reunião de janeiro, ou mesmo em março, ficando o colegiado livre de amarras para perseguir a ancoragem da inflação dentro do horizonte relevante, que já aponta para o primeiro semestre de 2026”.