A Polícia Civil confirmou, nesta segunda-feira, que havia uma nota fiscal de compra de arsênio no celular de Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar e matar quatro pessoas da mesma família. No documento, ainda segundo a instituição, também constava o nome de Deise como destinatária. A substância, base do veneno arsênico, estava no bolo consumido por vítimas em Torres.
No final de agosto de 2024, Deise também teria provocado a morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos. Entretanto, ainda não está claro em que momento ela teria envenenado a farinha usada para fazer o bolo de Natal que levou as outras três vítimas à morte.
De acordo com a PC, em um intervalo de quatro meses, Deise teria comprado arsênio pelo menos quatro vezes. As aquisições foram feitas na internet, e as entregas ocorreram via Correios.
Uma das compras da substância foi realizada pouco antes da morte de Paulo. Ele era marido de Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61 anos, que preparou o bolo de Natal e que também foi contaminada.
Em depoimento, Deise informou aos policiais que visitou os sogros no dia 31 de agosto. A visita seria uma tentativa de reconciliação após décadas de brigas com Zeli, supostamente motivadas por um saque bancário. Na ocasião, Deise e o companheiro levaram bananas e leite em pó para a casa dos familiares em Arroio do Sal.
Paulo Luiz dos Anjos morreu dois dias depois da visita da nora. À época, a família acreditou que ele havia morrido por intoxicação alimentar devido ao consumo das bananas, teoricamente contaminadas na enchente. Após a exumação do corpo dele, na semana passada, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) encontrou arsênio no cadáver.
Nora visitou sogra cerca de um mês antes de envenenamento
Exames também detectaram arsênio em Zeli e no corpo de outras duas pessoas que consumiram o bolo em Torres no final do ano. Segundo a perícia, a farinha utilizada na sobremesa continha doses letais do químico. A PC ainda tenta desvendar como se deu a dinâmica que resultou no envenenamento do doce.
Não é descartado que Deise tenha deixado a farinha contaminada na casa de Zeli pouco mais de um mês antes do Natal. Antes de ser presa, no último dia 5 de janeiro, ela prestou um depoimento em que diz que esteve com o marido e o filho na casa da sogra, em Arroio do Sal, no dia 16 de novembro de 2024.
Na casa de Zeli, ainda segundo o relato de Deise, “havia um cheiro insuportável em virtude da geladeira estar desligada”. Ela também disse que a maioria dos alimentos foi jogado fora, à exceção de uvas passas, frutas cristalizadas, requeijão, margarina, molhos que estavam tampados, vinho, presunto, queijo e ovos.
O depoimento ainda dá conta que a sogra havia ido para a casa onde Deise e o companheiro moravam, em Nova Santa Rita. Eles teriam dado carona para Zeli no retorno para Arroio do Sal, em 16 de novembro, levando vários mantimentos. Uma das suspeitas é que a farinha contaminada com arsênio estivesse em meio aos produtos.
Ainda no depoimento, Deise negou ter levado veneno para a casa de Zeli. Ela declarou que “embora não sejam próximos, ninguém teria motivos de chegar ao extremo e envenenar a família”.
Deise admitiu aos policiais, porém, que estava chateada porque a sogra não quis passar o Natal com ela e o neto. Ao invés disso, segundo o registro, Zeli teria preferido celebrar a data com as irmãs, Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva.
Neuza e Maida morreram em 24 de dezembro, um dia após ingerir o bolo envenenado. Também veio a óbito, na mesma data, a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Em nota, a defesa de Deise Moura dos Anjos diz que as declarações divulgadas pela Polícia Civil ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso, e que por isso aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação. O comunicado também diz que já foram realizados requerimentos e esclarecimentos no inquérito judicial referentes aos andamentos da investigação, e que a defesa aguarda neste momento a decisão judicial.