O ex-presidente dos Estados Unidos James Earl Carter Jr, mais conhecido como Jimmy Carter, morreu neste domingo (29), aos 100 anos. O democrata comandou o país de 1977 a 1981 e foi vencedor do Nobel da Paz em 2002. Ele foi o mais longevo ex-presidente dos EUA da história e estava sob cuidados paliativos desde fevereiro de 2023.
“Jimmy Carter, 39º presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2002, morreu pacificamente no domingo, 29 de dezembro, em sua casa em Plains, Geórgia, cercado por sua família. Ele tinha 100 anos, o presidente mais longevo da história dos EUA”, informou o Carter Center, organização sem fins lucrativos fundada em 1982 pelo ex-presidente.
Carter foi o 39º presidente dos Estados Unidos, após vencer o republicano e então presidente Gerald Ford. Ele foi derrotado quando tentou se reeleger, em 1980, pelo também republicano Ronald Reagan. Durante o mandato, Carter desempenhou papel importante nas negociações pela paz no Oriente Médio.
Em agosto de 2015, Carter foi diagnosticado com câncer e iniciou o tratamento do melanoma que se espalhou do fígado para o cérebro. Em dezembro do mesmo ano, declarou estar curado da doença. No entanto, a saúde do ex-presidente precisou de mais cuidados a partir de 2019, quando teve de passar por uma cirurgia para aliviar a pressão no crânio.
Uma das últimas aparições públicas de Carter foi em novembro do ano passado, no funeral da esposa e ex-primeira-dama Rosalynn Carter, morta aos 96 anos. Ele chegou à igreja Glenn Memorial, em Atlanta, na Geórgia, numa cadeira de rodas, com o semblante abatido. Eles eram casados desde 1946.
Carter sentou-se à primeira fila, ao lado do presidente Joe Biden, do ex-presidente Bill Clinton e de cinco primeiras-damas e ex-primeiras-damas vivas dos Estados Unidos — Jill Biden, Laura Bush, Hillary Clinton, Michelle Obama e Melania Trump —, assim como os 11 netos e 14 bisnetos do casal.
Rosalynn morreu “em paz, com sua família a seu lado”, na residência do casal em Plains, na Geórgia, como informou em nota a fundação que administra a imagem e o legado do ex-presidente.
Trajetória
Nascido e criado na Geórgia por uma tradicional família fazendeira, Carter foi governador e senador, por dois mandatos, de seu estado. Depois dos cargos, foi eleito para a Casa Branca pelo Partido Democrata, em 1976. Antes de ingressar na política, cuidou da fazenda da família, dedicada à plantação de amendoins, e foi oficial da Marinha mercante.
Apesar da trajetória, o ex-presidente não era visto como parte da política e era considerado um “outsider”, pela falta de ligações e contatos em Washington. A campanha vitoriosa de 1976 surpreendeu os próprios democratas.
O contexto da eleição se mostrou favorável à eleição de Carter. No início da década de 1970, os Estados Unidos foram tomados pelo escândalo de Watergate — série de vazamentos relacionados à corrupção que levaram à renúncia do então presidente Richard Nixon, do Partido Republicano.
Essas circunstâncias geraram descrédito da política entre a população norte-americana. Soma-se ao episódio envolvendo os republicanos o fim da guerra do Vietnã, cuja retirada das tropas foi um processo traumático para país, o que aumentou o desgaste na sociedade.
Ativismo
Após deixar a Casa Branca, Carter focou a atuação em trabalhos voluntários, como a construção de casas populares, e manteve a voz simbólica dentro do Partido Democrata. Foi reconhecido pela atuação em defesa dos direitos humanos e, com a esposa, Rosalynn, fundou o The Carter Center, que promove a democracia, a paz e a saúde em todo o mundo.
Em reconhecimento a esses esforços, Carter recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2002. Na época, o comitê da premiação destacou os “esforços infatigáveis em prol de uma solução pacífica dos conflitos internacionais, da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento econômico e social”.
Em 2019, à época com 95 anos, chegou a defender uma “idade limite” para a candidatura à Presidência dos Estados Unidos.
“Mesmo que eu tivesse apenas 80 anos — fosse 15 anos mais jovem —, não acredito que poderia assumir os deveres que assumi quando fui presidente. Você precisa ser muito flexível, capaz de mudar de um assunto para outro, concentrar-se adequadamente em cada um deles e depois reuni-los de maneira abrangente. Eu tenho tido dificuldades para andar — então penso que já passou o tempo de me envolver ativamente na política, ainda mais em uma corrida à presidência”, declarou.