O mercado não reagiu bem ao anúncio do pacote fiscal do governo. As projeções da equipe econômica são de uma economia de R$ 70 bilhões em 2025 e em 2026. No entanto, as estimativas do mercado estão longe dessa cifra, variando entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, o que pode levar o setor público a não cumprir a meta fiscal de 2025 e de 2026, o que estressou os mercados e desabou o preço dos ativos brasileiros.
“O equívoco do governo federal em anunciar a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) às pessoas que recebem até R$ 5 mil com as medidas estruturantes de gastos adicionou uma incerteza maior à trajetória de endividamento público brasileiro nos próximos anos”, comenta Leandro Manzoni, analista de economia da plataforma Investing.com.
Mesmo com a promessa de criação de um imposto para quem recebe uma renda mensal acima de R$ 50 mil, os investidores demonstraram dúvida se essa compensação será aprovada pelo Congresso. “Em linhas gerais, a proposta não apresenta uma política fiscal sustentável e crível, uma exigência do Banco Central do Brasil para uma melhor condução da política monetária”, comenta Manzoni.
INCERTEZAS FISCAIS
Como se viu na última semana, as incertezas fiscais acabam contaminando negativamente o preço dos ativos brasileiros, como alerta o Comitê de Política Monetária (Copom) em seus comunicados e atas da reunião. A cotação do dólar é um dos preços financeiros atingidos por essa incerteza. A moeda americana chegou a ser negociada acima de R$ 6,00, o que eleva o risco de acelerar a inflação na economia brasileira.
“Não haverá alternativa ao Comitê de Política Monetária (Copom) de acelerar o aperto monetário na reunião de dezembro, provavelmente uma alta da taxa Selic em 75 pontos-base, elevando a taxa básica de juros de 11,25% para 12%. Há expectativas de alta de 100 pontos-base, para 12,25%, na reunião de dezembro”, comenta o analista.
Para ele, o resultado do PIB do terceiro trimestre deve ajudar na precificação do mercado na magnitude do aperto monetário na última reunião do Copom em 2024. A expectativa é de uma desaceleração do crescimento econômico entre julho e setembro em comparação com o trimestre anterior. No segundo trimestre, o PIB expandiu 1,4% em relação aos três primeiros meses do ano.
“Mesmo com a desaceleração, se o resultado vier acima da mediana das projeções do mercado, as apostas de alta de 100 pontos-base na Selic devem crescer. Se vier abaixo do consenso, pode haver uma tendência de apostas de avanço de 75 pontos-base na taxa Selic”, diz.
As falas de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária e presidente do Banco Central a partir de janeiro, vão nessa direção. Em dois eventos diferentes na última semana, o futuro presidente do Banco Central enfatizou que atividade econômica e mercado de trabalho melhores do que o projetado inicialmente vão exigir uma política monetária mais restritiva.
“Isso pode ser interpretado, apesar do mercado ter desconfiança da gestão de Galípolo ser mais leniente com a inflação para atender a demanda por taxa de juros mais baixas do governo, de que Galípolo deve manter o tom hawkish do Copom nesse apagar de luzes da gestão de Roberto Campos Neto, talvez até aumentar a velocidade de alta em 2025. Dessa forma, não será surpresa que o atual ciclo de alta da Selic termine por volta de 14%, com a última subida no meio do ano que vem”, conclui.