Em pedido de desculpas, CEO do Carrefour ressalta ‘orgulho’ da parceria com agricultura brasileira

Carrefour pede desculpas após crise com governo brasileiro por compra de carnes do Mercosul | Foto: Guilherme Almeida/Divulgação

O CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou uma carta de retratação nesta terça-feira (26), após o anúncio de que a rede de supermercados francesa deixaria de comprar carnes do Mercosul. No documento, divulgado no site oficial da empresa, Bompard expressou seu “orgulho” pela parceria histórica com a agricultura brasileira.

Na carta, o CEO pediu desculpas caso a “comunicação do Carrefour França” tenha causado “confusão” e sido “interpretada como questionamento” da parceria com a agricultura brasileira, ou como uma crítica à produção nacional.

Ele reforça que o Carrefour França “é o primeiro parceiro da agricultura francesa” e que continuará comprando “quase toda a carne” que necessita de produtores do país.

“A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais”, afirmou Bompard.

Ele também destacou a importância da relação da rede com a agricultura brasileira (leia a íntegra da carta abaixo). “Temos orgulho de sermos um grande parceiro histórico da agricultura brasileira. Sabemos que a agropecuária brasileira fornece carne de alta qualidade e sabor. Continuaremos a valorizar os setores agrícolas brasileiros, como fazemos há 50 anos.”

“Por meio do nosso crescimento, contribuímos também para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, em uma lógica que sempre foi de parceria construtiva. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.”

A decisão do Carrefour

Na última quarta-feira (20), o Carrefour anunciou que deixará de comprar carnes provenientes do Mercosul para abastecer suas lojas na França. A decisão foi anunciada pelo CEO global da empresa, Alexandre Bompard, e ocorre em resposta a pressões de sindicatos de agricultores franceses que buscam proteger o setor local da concorrência internacional.

O Carrefour justificou a medida como alinhada a preocupações ambientais e às normas rigorosas impostas pela União Europeia. Em comunicado, Bompard afirmou entender a “raiva e o desespero” dos agricultores franceses diante da perspectiva de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que poderia “inundar o mercado francês com carne que não respeita as exigências e normas locais”.

Além disso, o executivo defendeu que o setor varejista lidere um movimento mais amplo de apoio à produção local e inspirou outros atores do setor agroalimentar a adotar medidas semelhantes.

‘Protecionismo exagerado’

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), classificou como “protecionismo exagerado” a decisão do Carrefour de suspender a compra de carne de países do Mercosul, incluindo o Brasil, para suas lojas na França. Lira fez a declaração nesta segunda-feira (25), durante um evento promovido pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), em São Paulo.

Lira afirmou que o Congresso Nacional deve discutir ainda nesta semana uma proposta de “reciprocidade econômica” nas relações comerciais com outros países, que pode incluir exigências de isonomia ambiental. No entanto, ele não detalhou o conteúdo do projeto. Durante seu discurso, o presidente da Câmara interrompeu a leitura do pronunciamento oficial para abordar o tema de forma improvisada.

Durante sua fala, Arthur Lira reforçou a necessidade de o Brasil adotar medidas de reciprocidade econômica nas relações comerciais. Segundo ele, a legislação proposta pelo Congresso pode garantir que as exigências ambientais e sanitárias impostas a produtos brasileiros também sejam aplicadas a produtos importados da França e de outros países.

Confira a nota na íntegra

A nossa declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. E é nossa responsabilidade de esclarecê-la.

Nunca quisemos opor a agricultura francesa à agricultura brasileira. França e Brasil são dois países que compartilham o amor pela terra, pelo cultivo e pela alimentação de qualidade.

Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que estão atravessando uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.

Do outro lado do Atlântico, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produção conhecemos.

Lamentamos muito que nossa comunicação tenha sido recebida como questionamento de nossa parceria com a produção agropecuária brasileira ou como uma crítica a ela.

Temos orgulho de sermos um grande parceiro histórico da agricultura brasileira. Sabemos que a agropecuária brasileira fornece carne de alta qualidade e sabor. Continuaremos a valorizar os setores agrícolas brasileiros, como fazemos há 50 anos. Por meio do nosso crescimento, contribuímos também para o desenvolvimento dos produtores agrícolas brasileiros, em uma lógica que sempre foi de parceria construtiva. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.

O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos.