Selic está em patamar excessivo e incompatível, afirma CNI

Entidades empresariais criticam a elevação da dos juros

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A Confederação Nacional da Indústria (CNI) recebeu com indignação a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, considerando equivocado e uma decisão extremamente conservadora da autoridade monetária porque o nível em que a Selic se encontrava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle. “É importante observar que a inflação tem sido impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito. Por isso, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população”, disse a CNI.

Para o presidente da Federação das Indústrias, Claudio Bier, a decisão reflete a necessidade de conter o avanço das expectativas de inflação e estabilizar os impactos da desvalorização cambial recente, mas é um sério problema para a indústria. “Reconhecemos que o aumento dos juros é uma medida para reduzir a inflação e firmar as expectativas, mas não aprovamos esta alta, que é muito prejudicial ao setor industrial. Entendemos que essa decisão impõe desafios adicionais ao setor produtivo, especialmente para as indústrias do Rio Grande do Sul, que enfrentam custos elevados devido à instabilidade cambial e às dificuldades da retomada após as enchentes”, diz o presidente da FIERGS, Claudio Bier.

Já para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a economia segue com um cenário de atividade econômica nacional ainda muito resiliente e um mercado de trabalho que surpreende na geração de vagas. No seu entendimento, essa conjuntura ajuda a explicar o porquê do lado da inflação não ter havido melhoras desde a última reunião. Além disso, ainda no cenário interno, há muitas dúvidas sobre a disposição do governo em cortar gastos e sobre a condução da política monetária sob nova presidência do Banco Central. No cenário externo, por sua vez, há os impactos decorrentes dos resultados das eleições americanas, as já existentes dificuldades econômicas da China e o crescente risco geopolítico no Oriente Médio que, associados a fatores internos, colaboram para a desvalorização cambial.

“O aumento, além de diminuir o ímpeto de demanda, reduzindo a inflação corrente, busca contribuir para a reancoragem das expectativas, via ganho de credibilidade. Mas isso vem a um custo alto… Tem um impacto relevante sobre famílias e empresas, especialmente no caso do Rio Grande do Sul que ainda luta para se reconstruir. O controle dos gastos públicos tem papel fundamental para reduzir a alta e o tempo em que as taxas permanecerão elevadas”, comenta o dirigente

Para a CNI, o quadro segue sendo de controle da inflação no cenário interno. Além disso, destaca que as acelerações do IPCA em setembro e do IPCA-15 em outubro estão concentradas na alta dos preços de energia elétrica e alimentos, que, por sua vez, estão ligadas a fatores conjunturais, com destaque para as secas extremas. “Logo, esses resultados não asseguram mudança significativa na tendência da inflação. Inclusive, a bandeira tarifária vermelha praticada em setembro e outubro já foi revertida para amarela, agora em novembro, o que reduz a pressão exercida por esse item sobre a inflação”, diz a nota da confederação.

CONTAS PÚBLICAS 

Outro ponto destacado é a questão das contas públicas. O impulso fiscal sobre a atividade econômica tem se reduzido significativamente ao longo de 2024, o que tende a frear a pressão sobre a inflação. As despesas primárias federais apresentaram crescimento real de 10,5% no primeiro semestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023. Já no segundo semestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, a estimativa da CNI é de queda real de 1,7% (desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023).

“O menor ritmo de crescimento das despesas somado ao forte crescimento da arrecadação federal tem mostrado que o cumprimento do limite inferior da meta de resultado primário de 2024 é totalmente viável. O Banco Central precisa levar em conta as medidas de redução de despesas públicas em 2025 que devem ser anunciadas em breve pelo Governo Federal. Ação muito positiva para a melhor sincronia entre as políticas monetária e fiscal”, comenta a CNI.